Duas manifestações, uma a favor e outra contra o Presidente, Nicolás Maduro são aguardadas para esta quarta-feira, na Venezuela. Prevê-se o pior e teme-se que o país possa cair numa guerra civil.
“Sabemos que vai haver grandes confrontos, porque o Governo já pôs todos os militares na rua, como se tratasse de uma guerra, numa posição de ataque”, afirma Olavo Manica, que já esteve emigrado na Venezuela e ainda lá tem negócios.
“Cada vez que a oposição convoca uma manifestação de rua, o Governo também convoca os seus partidários para que haja confronto e dessa maneira a repressão seja obrigatória. Este Governo, em vez de preservar a paz, o que faz é incentivar a violência”, critica.
Olavo Manica é agora dirigente do Clube Social das Comunidades Madeirenses, mas viveu muito tempo na Venezuela, onde se manifestou contra Hugo Chavéz.
“Era opositor ao Hugo Chavez ainda antes de ser Presidente e cheguei a receber ameaças através de uns gravadores que tínhamos nos escritórios. Deixavam mensagens durante a noite: ou eu deixava de me meter com o Governo e com o governador da zona onde eu vivia, no estado de Vargas, ou os meus filhos é que iam pagar as consequências”, conta à Renascença.
“Mandei os meus filhos embora e depois tive de me vir embora e não posso regressar à Venezuela. Não tenho nenhuma medida de proibição de entrada ou saída, mas o cônsul da Venezuela cá na Madeira já me disse que eu posso entrar, não sabe é se posso sair”, acrescenta.
Isto, apesar de ainda ter terrenos naquele país sul-americano que, segundo diz, foram “invadidos pelo Governo, que fez construções, aluga aos seus partidários e está a cobrar arrendamento, apesar de nós estarmos a pagar IMI todos os anos desse terreno”.
Por tudo isto, este português que já foi emigrante diz que a Venezuela vive “uma espécie de ditadura moderna”.
Esta quarta-feira, as atenções internacionais viram-se para ali. A oposição ao regime de Nicolás Maduro promete os maiores protestos de sempre e o Presidente já anunciou o envio de militares para vários pontos do país e a distribuição de meio milhão de armas pelas milícias.
Teme-se uma guerra civil.
Emigrantes portugueses protestam cada vez mais
Christian Hohn, presidente de uma ONG que dá apoio a venezuelanos em Portugal, garante que já há muitos portugueses a participar nos protestos contra o governo venezuelano.
“Há uma camada de portugueses – especialmente os mais velhos, que foram nos anos 60 e 70 – a participar muito. Aqui há um antes e um depois. Antes, o português considerava que ia melhorar: ‘isto está mau mas vai melhorar e não participavam’; e o depois: com a expropriação das padarias e dos negócios, o português sai à rua a lutar pelos seus direitos como os venezuelanos”, explica à Renascença.
No último ano, cerca de 500 famílias regressaram a Portugal. Muitas perderam os seus negócios, mas não se sentem seguros na Venezuela. Christian Hohn arrisca dizer que é o país mais inseguro do mundo.
“Temos a inflação mais alta do mundo neste momento e somos o país com maior taxa de criminalidade no mundo. Caracas é famosa por ser a cidade mais perigosa do mundo. Tenho vários [casos] de gente que simplesmente estava na sua padaria, tinha a sua padaria aberta e chegou a força de intervenção contra eles. Dizem: ‘Saiam, se faz favor. Esta padaria foi expropriada. Agradecemos que saia da padaria porque a padaria agora é nossa. É uma padaria bolivariana’”, relata.
“As pessoas não podem fazer nada, porque se fazem alguma coisa são presas ou, ainda pior, podem ser agredidas e algumas são quando tentam defender as suas padarias.”, acrescenta.
Esta quarta-feira, a aposição venezuelana vai para a rua contestar a passagem dos poderes parlamentares para o Supremo Tribunal de Justiça. Em resposta, o Presidente, Nicólas Maduro, ordenou às Forças Armadas que também fossem para a rua e aprovou a compra de 500 mil espingardas para a milícia.
“Tenho um amigo que me disse que não vai participar na manifestação, apesar de ter intenção de fazê-lo, porque os militares estão preparados para reprimir o povo”, avança o madeirense Olavo Manica.
“Só pedimos eleições gerais para tudo, não estamos a pedir nada do outro mundo. Eleições para todos os poderes na Venezuela e deveria ser o povo nas urnas que se deveria manifestar”, resume, em declarações à Renascença.