O presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) considerou esta quinta-feira “um pedido inacreditável” os 5,9 milhões de euros reclamados pela ex-presidente executiva (CEO) da TAP Christine Ourmières-Widener no processo cível interposto contra a companhia.
“Acho que é um pedido inacreditável. Claro que a forma [de a demitir] não foi a correta, mas o historial da engenheira Christine na gestão da TAP foi completamente desastroso e danoso”, afirmou Tiago Faria Lopes em declarações à agência Lusa.
Segundo o dirigente sindical, “fazendo uma análise do ano e meio [de gestão] da engenheira Christine, se calhar vai-se apurar que ela é que deveria pagar uma indemnização aos contribuintes portugueses, porque a TAP teve um ano e meio perdido na recuperação da covid em relação às suas congéneres”.
Em causa está a exoneração por justa causa de Christine Ourmières-Widener e do presidente do conselho de administração (‘chairman’), Manuel Beja, anunciada a 06 de março passado em conferência de imprensa pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, após uma investigação da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) sobre a indemnização de 500 mil euros paga pela TAP a Alexandra Reis.
Entretanto, a gestora francesa tinha já anunciado a intenção de exigir na justiça o pagamento dos valores a que teria direito até ao final do contrato com a transportadora aérea.
Salientando que o SPAC “sempre foi o primeiro a denunciar todos os erros” da gestão de Christine Ourmières-Widener, Tiago Faria Lopes destacou, desde logo, como “fulcral e extremamente danoso para as contas da TAP a manutenção dos cargueiros na companhia, que voaram meia dúzia de meses” e resultaram num “prejuízo que ascende os 40 milhões de euros”.
“A tentativa de mudança de frota de automóveis da TAP, a tentativa de mudança de sede e os mais de 3.300 voos cancelados durante o ano de 2022” são outros dos “erros de gestão” apontados pelo sindicato, que critica a gestora francesa por assumir uma “política de cancelamentos de voos” e “bloquear as negociações dos acordos de empresa dentro da TAP, mantendo sempre a não paz social”.
“Para ela era preferível cancelar voos do que tentar chegar a acordos de empresa com os trabalhadores”, sustentou Tiago Faria Lopes.
Apesar da decisão de aumentar tarifas e da “benesse fiscal de 30 milhões de euros” de que [a empresa] beneficiou, Christine Ourmières-Widener “não conseguiu sequer – segundo o SPAC - fazer frente à concorrência das suas congéneres, ficamos muito abaixo todas elas”.
“Foi tão mau que basta compararmos o lucro de 23 milhões de euros no primeiro semestre de 2023 com os 200 milhões de euros de prejuízo da engenheira Christine em 2022”, enfatizou, referindo ainda que o contrato da gestora “não tinha os cortes salariais de 30% da administração anterior” e lembrando “as contratações de amigos, estrangeiros, muitos deles sem habilitação para estar nos cargos” efetuadas pela ex-CEO.
Considerando que, “elencando os erros todos, é evidente que a engenheira Christine teve uma gestão corrente e danosa da companhia”, Tiago Faria Lopes admite que a gestora “poderá ter um argumento pela forma como foi feita a sua demissão, publicamente, mas não para pedir uma indemnização”.
“Recordo que este Governo que já o tinha feito com o antecessor da engenheira Christine, o engenheiro Antonoaldo [Neves], que também foi despedido pela televisão, e ele não fez este alarido todo, porque sabia as competências que tinha e que são tão válidas que está numa das melhores companhias do mundo”.
A agência Lusa confirmou no portal Citius que a ex-presidente executiva da TAP deu entrada na terça-feira com o processo cível contra a empresa, exigindo 5.943.196,16 euros, tendo a ação a ação dos advogados de Christine Ourmières-Widener sido distribuída na quarta-feira ao juiz 3 do Juízo Central Cível de Lisboa, apontando como réus as empresas TAP SGPS e a TAP S.A.
Contactada pela Lusa, a advogada da antiga presidente executiva, Inês Arruda, reiterou a informação disponibilizada no Citius, evitando, por agora, fazer mais comentários: “Confirmo que foi dada entrada a ação contra a TAP e que o valor da ação é esse [5,9 milhões de euros]”.
A Lusa pediu um comentário à TAP e aos ministérios das Infraestruturas e das Finanças. O ministério das Finanças, liderado por Fernando Medina, já respondeu que não vai comentar e aguarda resposta da companhia aérea.
Hoje, no final do Conselho de Ministros, a ministra da Presidência referiu que o Governo está "muito confortável" com o despedimento da ex-presidente executiva da TAP defendendo que o relatório que sustentou a decisão era inequívoco.