​“PS deve dizer aos portugueses que quer ter mais força”, diz Eurico Brilhante Dias
21-11-2018 - 23:54

Eurico Brilhante Dias é um dos poucos “seguristas” que foram chamados para o Governo. Em entrevista à Renascença e ao “Público”, considera que o PS deve fazer campanha pela maioria absoluta sem apelar diretamente à maioria absoluta.

Foi um dos dirigentes mais próximos de António José Seguro, mas acabou por ir para o Governo Costa. O PS é um partido pacificado e rendido a António Costa?

Isso do rendido é uma expressão muito derrotada. Pacificado, sem dúvida. O PS tem uma argamassa fundamental que é a forma como olha a sociedade portuguesa. Podemos ter divergências. As primárias foram um momento de divergência muito acentuada e profunda e até excessivamente fulanizada. O dr. António Costa sublinhou várias vezes que não tínhamos divergência programática significativa, mas diferenças de personalidade, de protagonistas.

Concorda com o seu ministro, Augusto Santos Silva, que nos disse que um novo acordo à esquerda tem de implicar compromissos em termos de política internacional e europeia?
O meu caro chefe é um homem muito hábil. O programa do PS é um programa de desenvolvimento do país em que a pertença ao espaço europeu e à NATO é marcante desde a génese deste partido desde 1973. É normal que programaticamente sublinhemos que as nossas opções estão assentes nestes dois projectos.

Acha que será possível continuar assim sem uma maioria absoluta?
Até agora foi possível e essa pergunta deve ser endossada em primeiro lugar ao PCP e ao BE. O BE teve há pouco tempo a sua convenção e manifestou desejo de ir para o Governo - não conheço nenhum partido que entre nas eleições e diga o nosso objetivo é perder e não ser Governo. A pergunta seguinte deveria ser: quanto à reestruturação da dívida como foi apresentada em 2015? Isso continua a ser um objetivo programático e central ou já tem uma posição mais próxima da do PS? E em relação ao projecto da UEM? O euro é a nossa moeda ou Portugal deve em alguma circunstância abandonar o euro?

Acha que o PS dobrou o PCP e o BE?
Não, não acho.

Pergunto isto porque o país pode ter um orçamento quase zero com o apoio do PCP e BE.
Nunca vi nenhum deles manifestar um amor ardente pelo défice orçamental. Nunca ouvi nenhum discurso de Jerónimo de Sousa ou de Catarina Martins defendendo entusiasticamente que o país devia ter era défice. É legítimo que qualquer partido queira ser Governo e queira ter o maior número possível de votos.

Acha que o PS devia pedir claramente a maioria absoluta, como defendeu Francisco Assis no congresso?
Pedir maioria absoluta soa, às vezes, um bocadinho de chantagem perante o eleitorado: "Eu preciso de uma maioria absoluta!". As pessoas votam em programas e o PS deve dizer aos portugueses que quer ter mais força para poder implementar aquele que é o seu programa. Na noite eleitoral, veremos que solução é que os portugueses querem. A maioria absoluta é, muitas vezes, associada à ideia de poder absoluto. Não é isso sequer que está em causa. O PS, sem prejuízo do resultado que tiver, terá que continuar a conversar no Parlamento como o PEV, PCP, BE, PAN e também com o PSD e CDS. Agora, é legítimo que ambicionemos que mais portugueses votem PS.