A festa britânica que se viveu no Porto na última noite, a propósito da Liga dos Campeões, “foi potencialmente um erro de gestão, também política”. A posição assumida é na Renascença pelo médico de saúde pública Bernardo Gomes.
O médico que também integra o chamado “grupo das linhas vermelhas” destaca que uma comunicação efetiva de risco deve passar pela confiança e a transparência, e que, nesta fase de desconfinamento, não pode haver exemplos contraditórios.
“A comunicação de risco efetiva passa por conseguirmos manter a confiança, a congruência e a transparência”, defende, acrescentando que “não podemos pedir adesão voluntária às pessoas quando depois há exemplos contraditórios”.
Bernardo Gomes lembra que vivemos “numa altura particularmente delicada, em que temos de começar a largar medidas e privilegiar o ar livre”.
Sobre esta matéria, de resto, o especialista defende uma aposta na fiscalização de espaços fechados e ajuntamentos e mostra-se contrário ao uso de máscara no acesso à praia.
“Na minha modesta opinião, não faz sentido. Nós perdemos uma oportunidade, com este ruído todo de começar a transmitir que, ao ar livre, sem ser em agregações, de passagem não faz sentido as pessoas estarem a usar máscara nesta atual fase da pandemia”, mas sim “focar-nos nos espaços fechados e em agregações”.
“Há aqui uma necessidade clara de reinício de comunicação”, defende, “sob risco de perder também a adesão voluntária das pessoas aos riscos e aos cuidados que devemos ter”.
“Sem esse ‘reset’, é mais difícil conseguirmos gerir isto e estas circunstâncias de autoridade e de exemplo são muito importantes para termos uma comunicação efetiva”, destaca ainda.
A Liga dos Campeões, que se jogou na noite de sábado no Porto, juntou na cidade milhares de adeptos, em quase três dias de convívio. O Chelsea sagrou-se campeão europeu e, no final, houve desacatos.
Resumo de um dia caótico
Mais de 40 aviões aterraram no aeroporto do Porto durante o dia de sábado, vindos de Manchester e Londres, com milhares de adeptos dos dois clubes.
A tarde foi de caos e ajuntamentos desorganizados na Baixa do Porto, principalmente nos Aliados, onde estavam os adeptos do Chelsea, e também na Ribeira, onde estiveram os adeptos do Manchester City.
Não existiu uma bolha, como foi inicialmente anunciado pelo Governo, e os adeptos moveram-se livremente pela cidade.
A deslocação para o estádio foi a parte que correu de acordo com os planos: de forma ordeira e parcelada.
Dentro de campo, o Chelsea conquistou a sua segunda Liga dos Campeões e na Ribeira houve confrontos entre adeptos. A PSP confirma quatro detenções: dois adeptos do City por agressões a polícias e dois indivíduos por contrafação de material.