É um dos escritores cubanos que mais edita fora do seu país. Leonardo Padura tem um novo livro onde retoma as aventuras do detetive Mário Conde. Economista de formação, na sua passagem por Lisboa antes da Feira do Livro, Padura falou da atual situação do seu país. Cuba está a ser muito afetada pela crise na Venezuela.
Em entrevista à Renascença, o autor de “A Transparência do Tempo” explica que depois do embargo americano e o fim da União Soviética, a economia cubana passou a depender muito da Venezuela. A atual crise com Maduro e a instabilidade “está realmente a afetar muito a economia cubana”, explica Padura, que reconhece que a Venezuela “era o principal parceiro económico a quem Cuba vendia serviços e alguns produtos e em troca recebia petróleo e algumas divisas”
O autor cubano fala ainda do novo presidente, Miguel Díaz-Canel, o sucessor de Raúl Castro, que “está a tentar organizar um pouco a situação do país, num contexto muito tenso”. Padura refere que antes “o próprio governo” o “olhava de lado como se fosse o demónio, quando em alguns artigos ou em alguns romances falava da corrupção, agora fala de uma luta épica contra a corrupção”.
A questão, diz o escritor é que agora “aperceberam-se de que, em Cuba, para viver e sobreviver quase toda a gente rouba. E enquanto não se resolver os problemas económicos das pessoas vai ser muito difícil eliminar algumas manifestações de corrupção”.
“Ninguém se atreve a fazer mudanças económicas profundas” em Cuba
Nesta entrevista na passagem por Lisboa, Leonardo Padura fala ainda da atual administração Trump. O escritor explica que “as relações de Cuba com os Estados Unidos estão num nível baixo”. Admite mesmo que “é nível o mais baixo desde a presidência de Carter”.
Ainda sobre a América Latina, este cubano explica que o seu país está também a sofrer as consequências da eleição de Bolsonaro no Brasil, já que os médicos cubanos foram “retirados” do Brasil e isso “significava a entrada de dinheiro importante para o país”.
Formado em economia, Padura admite, contudo, que “ninguém se atreve a fazer mudanças económicas profundas”, numa altura em que em Cuba há “uma economia disfuncional”.
A nova aventura do detetive Mário Conde
“Neste romance o Mário Conde completa 60 anos e já viveu três quartos da sua vida. É um Mário Conde mais melancólico, nostálgico, diria até pessimista”. É este o enquadramento que Leonardo Padura dá sobre o seu novo livro “A Transparência do Tempo” em que volta a pôr em ação o seu personagem mais carismático, o detetive Mário Conde.
Embora reconheça que no livro pode surgir uma ideia de final, Padura assegura aos seus fiéis leitores que “não será o final do Mário Conde”. O escritor fala numa nova etapa em que o seu velho amigo “começa a olhar para o passado e quando olha para o futuro vê uma nebulosidade em que não distingue nada e sente-se inseguro”.
No enredo deste livro, onde há de novo um contexto histórico “que vai até ao século XIII”, há um “um objeto que está no centro de tudo”, explica o autor. Em causa está “um objeto de desejo, de procura e algum mistério que é uma virgem negra que chegou a Cuba vinda da Catalunha depois da guerra civil espanhola ou durante a guerra”. Nas palavras do autor “esta virgem negra significa a fé dos homens”.
Já fora da entrevista, o autor explicou-nos que tinha acabado de regressar de Tóquio, no Japão. Ficou apenas poucos dias em Lisboa, cidade onde nos confessou que quer sempre vir para comer bacalhau, um dos seus pratos nacionais preferidos.