Os bispos portugueses apelam à dignificação da política e ao respeito pelo quadro constitucional.
Comentando a actualidade política nacional, a Conferência Episcopal Portuguesa, que termina esta quinta-feira a reunião plenária em Fátima, pede “que tudo decorra no quadro constitucional, sem excessiva crispação sociopolítica, geradora de insegurança e desmotivação.”
Os bispos “apelam à cultura de diálogo e de encontro no respeito recíproco, à informação verdadeira e transparente, à sobreposição dos interesses nacionais acima dos particulares, à dignificação da política, aos consensos nas questões fundamentais, à reconciliação e à paz na diversidade, em que todos os cidadãos se sintam responsáveis.”
Na conferência de imprensa que se seguiu à leitura do comunicado, o presidente da CEP, D. Manuel Clemente salientou que o país está “num momento de escolhas, de opções” para “garantir o melhor futuro”.
“É nesse sentido que apelamos à serenidade, à calma, com certeza que há diversas posições em confronto, mas isso faz parte da vida democrática normal, respeitemos e procuremos todos o melhor caminho dentro do quadro constitucional em vigor”, defendeu.
À pergunta se sente necessidade de “nova clarificação eleitoral”, D. Manuel Clemente, neste caso falando a título pessoal, considerou ser necessária uma “clarificação” relativamente aos acordos estabelecidos entre os partidos de esquerda.
“Como cidadão quero ver, antes de mais, a clarificação do que há e creio que ainda estamos nesse processo, porque tanto quanto eu vi na comunicação social, mesmo os acordos que estarão na base de um possível governo, como se apresenta, ainda precisam de maior esclarecimento, concretamente em termos da opinião pública”, afirmou.
Referindo-se aos partidos mais à esquerda, o Patriarca de Lisboa salienta que “são cidadãos como os outros cidadãos, apresentaram-se à eleição, tiveram os votos que tiveram, combinam-se com as outras forças políticas que estão presentes na Assembleia da República, é daí que saem os governos depois por indicação do Presidente da República”.
“Depois, quanto às situações precisas, cá estaremos nós, como estão outras forças e outras realidades da opinião pública portuguesa para expressar a nossa opinião”, observou.
Refugiados e renovação da pastoral
A questão dos refugiados também foi abordada durante estes dias de encontro, com a Conferência Episcopal a sublinhar a sua sintonia com os apelos do Papa Francisco ao acolhimento. Os bispos “reafirmam o dever do acolhimento em nome das raízes humanas e cristãs da Europa. Neste contexto saúdam as instituições portuguesas que estão desde já preparadas para esta missão e congratulam-se pelas iniciativas da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR- Famílias), na qual se encontram muitas instituições da Igreja.”
“Manifestam, contudo, a sua preocupação pelo atraso na recolocação dos 160 mil refugiados e recomendam às autoridades europeias e nacionais a maior celeridade na concretização deste processo. Formulam também o desejo de que possam ser acolhidos dignamente antes do frio de inverno, acabando com a cena desumana destes novos pobres diante de muros de betão e de arame farpado.”
No plano interno, os bispos recordam que estiveram recentemente reunidos em Roma com o Papa Francisco em que se concluiu que era necessário fazer uma renovação da pastoral da Igreja em Portugal. “A Assembleia procurará formas concretas dessa renovação, particularmente numa mais cuidada atenção pastoral à família e à comunidade, e num percurso catequético e formativo de acompanhamento das crianças, adolescentes e jovens.”
Os responsáveis pelas dioceses portugueses não esqueceram ainda a proximidade do Jubileu da Misericórdia, anunciada por Francisco, e que começa em Dezembro. “Entre outros elementos, procurar-se-á uma maior atenção na celebração do sacramento da Reconciliação, na peregrinação sobretudo à Catedral, na valorização da partilha e solidariedade, nas práticas das obras de misericórdia e nas catequeses sobre a misericórdia nos tempos fortes da liturgia.”
[Actualizado às 16h55]