“Lá vamos nós”, suspira Bruno Nogueira quando a pergunta foi sobre os limites do humor. A conversa que juntou o humorista e o pianista Filipe Melo este sábado, na Capela da Imaculada, no Espaço Vita, em Braga, no âmbito do Festival Literário Utopia, não teve limites, nem papas na língua.
Perante a plateia, Bruno Nogueira admitiu que recebe “diariamente, ou semanalmente, ameaças de morte”. Em causa os episódios da série “O Último a Sair” que estão a passar no streaming em países como o Brasil e Angola e onde o humor de Nogueira tem gerado reações.
Na conversa que encheu a capela, e que foi moderada por Hélder Gomes, Bruno Nogueira afirmou que “uma pessoa tem de estar preparada, quando escreve algo potencialmente polémico, para uma reação adversa, ou ferir suscetibilidades”. Contudo, o humorista referiu que tem de estar preparado para “encarar” isso, e não ficar “chocado”.
Sublinhando que é a “liberdade de dizer que nos distingue como humanos”, Bruno Nogueira considerou que “todas as pessoas têm um território sagrado” e deu como exemplo, a morte, quando “morre um familiar”.
Na sua opinião, se se preocupasse com todos esses “territórios sagrados”, não conseguiria “acondicionar o que toda a gente quer”, preferia não escrever, mais-valia, disse “ser o chat GPT” a criar os textos.
Considerando que há cada mais “intolerância”, Bruno Nogueira foi questionado pelo público sobre o seu tipo de humor. Segundo o criador, “não há nada mais desinteressante do que falar sobre o humor, o melhor é fazê-lo”.
Olhando para trás, o artista referiu que já trabalhou vários tipos de humor, e recordou o início do Tubo de Ensaio que assinou na TSF para apontar que nos primeiros episódios, usava linguagem para chocar, como uma forma de se afirmar. Mas hoje, diz Bruno Nogueira, “em última análise o que interessa não é mudar mentalidades”, nem é um “caminho moralista”.
O humorista que no meio da conversa admitiu “odiar gatos”, diz que o humor “é um exercício pleno de liberdade" cujo único propósito é fazer rir.
Questionado se já se arrependeu de alguma coisa, o humorista reconheceu que “há coisas que faria de forma diferente”. Mas, o importante, argumentou, é fazer “as pazes com o estarmos sempre em mudança” e não estar “numa luta connosco próprios”.
Numa altura, em que Bruno Nogueira vai voltar a levar a palco, o espetáculo “Uma Nêspera no cu” que faz em conjunto com Nuno Markl e Filipe Melo, também se falou sobre este regresso.
Sobre a sua participação, o pianista Filipe Melo admitiu que não tem “consciências da quantidade de pessoas que ouve” e que muitas vezes se “esquece” que ali está. Sobre o trabalho criativo apontou: “Somos um grupo de amigos que se entende e que tem a sua dinâmica”.
Questionado sobre o meio musical e se no jazz os artistas se levam muito a sério, Filipe Melo concluiu que há hoje “muita gente que se leva demasiado a sério”.
Para si, “todas as manifestações artísticas facilitam a comunicação humana. A curiosidade, faz com que as pessoas sejam mais empáticas”.