O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, pediu esta terça-feira desculpa ao Parlamento Europeu pelo papel que a sua empresa desempenhou no escândalo da Cambride Analytica e por permitir que notícias falsas proliferem na rede social.
Numa reunião com os líderes das diferentes famílias políticas europeias, o CEO da empresa que detém o Facebook, o Instagram e o WhatsApp voltou a repetir as medidas que já tinha anunciado no Senado americano na sequência do escândalo com a Cambridge Analytica, realçando a importância do mercado europeu para a plataforma.
“Os europeus são grande parte da nossa comunidade global. Muitos dos valores europeus são valores que partilhamos: desde a importância dos direitos humanos à importância de uma comunidade na paixão pela tecnologia, bem como o potencial que isso pode trazer”, começou por dizer Mark Zuckerberg, antes de começar a recolher perguntas dos líderes dos partidos do Parlamento Europeu.
Mark Zuckerberg acabou por repetir as declarações proferidas no capitólio norte-americano, mas alterou ligeiramente o discurso, focando-se nos acontecimentos europeus e defendendo que, neste momento, a rede social está focada em resolver o problema.
“Manter as pessoas seguras é mais importante do que multiplicar os nossos lucros”, defendeu Zuckerberg.
Também repetiu que a empresa vai aumentar o investimento na segurança da plataforma, uma que, sublinhou, desempenhou um papel importante na integração dos refugiados que têm chegado à Europa e durante os vários ataques terroristas que assolaram o continente, permitindo aos cidadãos informar os seus familiares e amigos de que estavam em segurança.
Apesar desses efeitos positivos, o CEO do Facebook reconheceu que a plataforma foi usada de forma errada e por isso pediu desculpa aos cidadãos europeus. “Tornou-se claro, ao longo dos últimos anos, que não fizemos o suficiente para prevenir que as ferramentas que criámos fossem usadas de forma negativa. Seja notícias falsas, seja a interferência em eleições ou o uso de informação dos utilizadores de forma errada.”
“Não assumimos todas as responsabilidades que deveríamos ter assumido. Isso foi um erro e peço desculpa”, disse Mark Zuckerberg perante os eurodeputados em Bruxelas.
Perguntas difíceis, repostas repetidas
Perante os líderes dos grupos do parlamento europeu, Mark Zuckerberg ouviu primeiro todas as questões que os eurodeputados tinham para lhe colocar e só depois respondeu.
O modelo possibilitou-lhe, de certa forma, fugir às questões mais difíceis, nomeadamente se aceitaria que a Autoridade Europeia da Concorrência olhasse para as contas do Facebook para determinar se a empresa não teria efetivamente o monopólio no mercado ou se estaria disponível para criar uma opção que permita aos utilizadores não terem os dados do Facebook associados aos do Whatsapp (serviço que pertence à mesma empresa e onde os dados são alegadamente encriptados).
“Foi por isso que quis este modelo”, atirou, frustrado, Guy Verhofstadt, da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa, ao ver o líder do Facebook a fugir às questões mais difíceis dos legisladores.
Zuckerberg recebeu, de facto, um conjunto de questões mais complexas e difíceis de responder do que aquelas que os congressistas norte-americanos lhe colocaram. Philippe Lamberts, do partido ecologista, perguntou se o Facebook “iria pagar impostos no sítio onde opera”, ao passo que Verhofstadt perguntou se a rede social estava disposta a compensar financeiramente os utilizadores que fossem afectados por um novo escândalo, ao abrigo da nova lei de proteção de dados.
Quando o CEO tomou a palavra, acabou por repetir aquilo que já tinha dito no Senado norte-americano. Falou no crescente potencial da inteligência artificial para detetar perfis falsos e discursos de ódio. A Nigel Farage, deu a mesma resposta que tinha dado ao senador Ted Cruz, do Partido Republicano dos EUA, ao ser questionado sobre se a rede social tem suprimido discursos conservadores como os dos dois políticos ou de Donald Trump.
“Estamos comprometidos em ser uma plataforma para todas as ideias. É muito importante que as pessoas o possam fazer. Posso dizer que nenhum tipo de discurso [que não entra na categoria de discurso de ódio] é ou será bloqueado”, disse Zuckerberg, justificando a redução no alcance a que Farage tem assistido nas suas publicações com a mudança no algoritmo implementada no inicio deste ano.
Sobre a regulação do sector, Zuckerberg também reciclou ideias. Dizendo que não é contra a regulação, sublinhou que quer “o tipo certo de regulação”.
“A pergunta não deve ser se eu acho que deve haver regulação. Eu questiono-me é qual é a boa regulação. Eu quero uma regulação que protege as pessoas, mas que não impeça a inovação”, disse o CEO aos deputados do Parlamento Europeu.