Nobel da Paz inicia greve de fome contra condições na prisão e véu islâmico no Irão
06-11-2023 - 13:49
• Lusa
Família de Mohammadi diz que ativista necessita de “cuidados médicos urgentes” num centro especializado em pulmões e coração, algo que as autoridades iranianas recusam.
A iraniana vencedora do Prémio Nobel da Paz deste ano, Narges Mohammadi, iniciou esta segunda-feira uma greve de fome em protesto contra a falta de cuidados médicos nas prisões e o uso obrigatório do véu islâmico no país.
“Narges Mohammadi informou a sua família, através de uma mensagem, que iniciou uma greve de fome”, indicaram na rede social Instagram familiares da ativista, de 51 anos, que sofre de problemas de saúde.
Mohammadi, atualmente detida na prisão de Evin, em Teerão, iniciou a greve de fome para denunciar “a política da República Islâmica de atrasar e negligenciar os cuidados médicos aos prisioneiros doentes”.
Esta falta de cuidados médicos traduz-se em “perda de saúde e de vidas”, segundo o comunicado divulgado pela família de Mohammadi.
A ativista também quer denunciar a “política de morte para quem não use o véu das mulheres iranianas”.
A família afirmou que Mohammadi necessita de “cuidados médicos urgentes” num centro especializado em pulmões e coração, algo que as autoridades do país persa recusam.
As autoridades iranianas negaram, na semana passada, o transporte de Mohammadi para um hospital para exames pulmonares e cardíacos por a ativista se ter recusado a usar o véu islâmico (‘hijab’).
“Um responsável da prisão deu ordens para que ela não seja transferida para o hospital ‘em hipótese alguma’ se não se cobrir com um véu”, denunciou então a família da ativista que, hoje, afirmou responsabilizar a República Islâmica pelo que acontecer a Narges Mohmmadi.
O Comité Norueguês do Nobel atribuiu no mês passado o prestigiado prémio a Mohammadi “pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos”.
A Fundação Nobel relacionou o ativismo de Mohammadi com os protestos desencadeados no ano passado no Irão, após a morte, sob custódia policial, da jovem Mahsa Amini, detida por não usar corretamente o véu islâmico.
O Governo iraniano considerou a atribuição do prémio à ativista como “um ato político” e uma medida de “pressão” do Ocidente.
Mohammadi cumpre atualmente uma pena de 10 anos de prisão por “espalhar propaganda contra o Estado”, mas tem entrado e saído de várias prisões iranianas nos últimos anos.
O seu ativismo custou-lhe 13 detenções, cinco penas no total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas.
A jornalista e ativista não vê os filhos, que estão em Paris, há oito anos e passou longos períodos em confinamento solitário.