O advogado do major Vasco Brazão, arguido no processo do reaparecimento das armas roubadas em Tancos, garante que "só há um memorando" e congratulou-se que o ex-chefe de gabinete do ex-ministro Azeredo Lopes tenha "honrado a verdade".
"Só há um memorando, não há dois, nem três [memorandos]" sobre a operação que levou à recuperação das armas, disse o advogado Ricardo Sá Fernandes, no final do novo interrogatório do major Vasco Brazão, ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar.
Questionado pelos jornalistas se o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes devia ser inquirido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) sobre o caso - uma vez que o major Vasco Brazão reitera que o general Martins Pereira, ex-chefe de gabinete do então ministro, informou o governante sobre o teor do memorando -, Ricardo Sá Fernandes remeteu essa avaliação para o próprio DCIAP, mas adiantou que "não vê nada de anormal" numa eventual inquirição de Azeredo Lopes pelo Ministério Público.
Ao dizer hoje que só há um memorando sobre o caso da recuperação das armas roubadas em Tancos e que o general Martins Pereira "honrou a verdade", o advogado de Vasco Brazão transmitiu a ideia que o memorando entregue recentemente por Martins Pereira ao DCIAP corresponde ao documento que Vasco Brazão disse ter entregue ao ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, aquando do seu primeiro interrogatório.
À saída hoje das instalações do DCIAP, Ricardo Sá Fernandes não quis falar sobre o teor do memorando, mas vincou que o que tem sido divulgado na comunicação social "corresponde no essencial à verdade". Esyas informações apontam para o facto de o memorando aludir à encenação que levou à recuperação das roubadas em Tancos.
Ricardo Sá Fernandes frisou que Vasco Brazão assume que cometeu um erro ao ocultar o que realmente se passou na recuperação das armas roubadas de Tancos, mas que a sua estratégia é agora a de "colaborar com a justiça" na descoberta de toda a verdade.
Vasco Brazão tinha pedido para ser novamente ouvido pelo DCIAP. Antes, o major, que estava em missão na República Centro-Africana, foi obrigado a regressar a Portugal, tendo ficado em prisão domiciliária, após primeiro interrogatório judicial, no qual revelou que Azeredo Lopes tinha sido informado da operação montada pela PJ Militar (PJM)
O ex-diretor PJM, coronel Luís Vieira, vai também prestar declarações no DCIAP no próximo dia 23.
Em 25 de setembro, a Polícia Judiciária deteve o diretor e outros três responsáveis da PJM, um civil, e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé.
Segundo o Ministério Público, em causa estão "factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas". O furto de material militar dos paióis de Tancos - instalação entretanto desativada - foi revelado no final de junho de 2017.
Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.