Com Passos Coelho reeleito e uma moção de estratégia definida como de regresso à social-democracia, a única expectativa em relação ao congresso social-democrata, que começa esta sexta-feira em Espinho, é se vai haver ou não renovação na direcção do partido.
Passos já disse que haverá alguma, mas que também não pode renovar tudo. O único lugar que está vago é o de número 1 ao Conselho Nacional, há dois anos ocupado por Miguel Relvas, já saído do Governo empurrado por uma licenciatura ainda hoje mal resolvida.
Mas esse é apenas um lugar honorífico. O que interessa são as vice-presidências do partido e, nomeadamente, se Marco António Costa vai continuar ou não a desempenhar o papel de número dois.
Essas alterações estão, contudo, reservadas para as 20h00 de sábado, quando Passos Coelho divulgar as suas listas para os órgãos do partido. E a única expectativa de um congresso ser a eventual dança de cadeiras é muito pouco para o partido mais votado das últimas legislativas, mas que está na oposição e que ainda não conseguiu dar a volta ao trauma dessa vitória que se transformou em derrota.
Passos chega, assim, a este congresso vitorioso, mas derrotado. E a precisar de conseguir reinventar-se para dar a volta a uma situação única na vida política portuguesa: um líder partidário que já foi primeiro-ministro, que ganhou as eleições, mas não voltou a formar governo e agora é líder da oposição e ainda não se habituou a isso.
Não se habituou, mas também já não se indigna. Segunda-feira, dia 4, o dia depois do congresso é o primeiro dia em que o Presidente da República pode dissolver o Parlamento. A marcação deste congresso parecia ter em conta esse “timing”, de forma a sair de Espinho um clamor por eleições que acabassem com aquilo que o PSD começou por considerar um governo ilegítimo.
Mas o Presidente que o PSD ajudou a eleger já disse que não faz dissoluções a pedido e o discurso da ilegitimidade foi caindo, sem que outro tomasse o seu lugar.
Passos Coelho está ainda à procura do seu novo fato e a questão é se conseguirá encontrá-lo ou se terá um longo caminho a arrastar-se na liderança de um partido que está sempre sedento de poder.
Na sua moção – com o título “Compromisso reformista – o líder do PSD escreve que quer voltar a governar, mas não pede eleições. Admite que o Governo de Costa pode ser mais resistente do que parecia e que pode não conduzir o país a uma situação como a de 2011. Mas defende que o país continuará sempre a precisar de uma alternativa liderada pelo PSD.
É essa alternativa que Passos Coelho continua por mostrar e que parece ainda não ter, até porque no debate orçamental baixou os braços, não apresentou propostas e adoptou uma atitude de menino mimado que amua e não quer saber, os outros que decidam.
A próxima geração
A oposição interna que optou por não ir a votos, vai contudo à tribuna em Espinho. Será protagonizada por José Eduardo Martins, o ex-secretário de Estado do Ambiente de quem Durão Barroso disse há mais de dez anos que um dia seria líder do PSD e primeiro-ministro. A outra oposição – Rui Rio – optou por bem sequer ir a Espinho.
Não há, portanto, para já um ataque ao poder. Só a marcação de lugares. José Eduardo Martins e Pedro Duarte, que foi director de campanha de Marcelo, assinalam que a próxima geração – aquela que sucedeu a Passos Coelho na JSD – está aí à espreita, a preparar terreno para quando chegar a hora.
E a hora pode ser depois das autárquicas do próximo ano. Esse é o próximo grande combate eleitoral previsto. Primeiro, ainda haverá regionais dos Açores, mas fazem parte de outro campeonato.
As autárquicas – para as quais Passos, na sua moção, estabelece como meta reconquistar a maioria das Câmaras e dos votos e, consequentemente, voltar à liderança da Associação Nacional de Municípios – vão marcar o prazo de validade do líder e das decisões deste 36º congresso do PSD.
Isto se, entretanto, não houver alguma avaria grave na economia ou na maioria que sustenta o Governo.