Numa altura em que as notícias falsas (“fake news”) tomaram conta do vocabulário informativo e até de algum conteúdo, o padre Américo Aguiar defende que o jornalista tem de ser “o guardião da verdade”.
O presidente do Grupo Renascença Multimédia Comunicação considera que, “quando procuramos informação, temos de ter a certeza de que aquele jornalista obedece a um código deontológico, a critérios de verdade e está a transmitir ao seu auditório a verdade”.
Na quarta-feira, o Papa divulgou a sua mensagem para o Dia das Comunicações Sociais. "A verdade vos tornará livres", uma citação bíblica, é o título do documento, que convida a uma reflexão sobre a importância do trabalho do jornalista e dos órgãos de comunicação social.
Convidado da Manhã da Renascença, o padre Américo Aguiar defende, tal como o Papa, que o jornalista tem a obrigação de saber o que é importante e essencial para a vida das pessoas.
“O que é que vende mais? É a verdade ou são as coscuvilhices? É a verdade ou são as fake news? É a verdade, o cuidado pela pessoa ou o ‘voyeurismo’, a bisbilhotice, a curiosidade?”, questiona, respondendo: “Infelizmente, não é a verdade propriamente dita”, mas isso não significa que o jornalista abdique da sua missão.
“Para nós, para aquilo que significa a responsabilidade da Renascença como órgão de comunicação social, a verdade é o elemento essencial para a confiança que alimentámos ao longo de décadas”, destaca o presidente do Grupo, mostrando-se preocupado com o que a influência das redes na divulgação das “fake news”.
“Parece-me que estamos num tempo em que ser verdade ou mentira não importa. Num tempo em que, no refúgio de um ecrã, nos abstraímos daquilo que é de facto a verdade”, aponta.
“E esse é o problema mais grave. Se para mim, para as famílias, para os cidadãos é importante ou não ser verdade. Porque às vezes parece que o importante é ser notícia. Se é verdade ou mentira é secundário”, destaca o também presidente do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais.
Ao basearmo-nos apenas no que lemos nas redes sociais, a sociedade está a “eliminar a figura do jornalista como intermediário” e “isto é perigosíssimo”, porque “temos que ter a garantia de que existem profissionais que, com um código deontológico a que correspondem, são capazes de discernir um acontecimento e transmitir-nos aquilo que é a verdade. E nas redes sociais isso de modo nenhum está garantido da parte de ninguém”, alerta por fim.
As notícias falsas estão no cerne da mensagem do Papa para 13 de Maio, dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.
“A verdade é aquilo sobre o qual nos podemos apoiar para não cair” é uma das frases de Francisco no documento.
A propósito da mensagem, decorre esta quinta-feira, entre as 17h30 e as 19h00, no auditório da Renascença, um debate sobre “As ‘fake news’ e a sua intromissão no ambiente informativo”. Nele participam os jornalistas Begoña Iñiguez, Teresa Canto Noronha, Olivier Bonamici e Vítor Bandarra. A moderação estará a cargo do jornalista Ricardo Conceição.