Há 46 anos que a Associação das Atividades Sociais do Bairro 2 de maio, na Ajuda, em Lisboa apoia famílias inteiras com refeições, assistência em casa, creche e pré-escolar. São entregues por dia kits com pão, leite, fruta e refeição completa a duzentas pessoas num total de 54 agregados familiares só na zona da Ajuda.
Entra-se pela associação adentro, onde só trabalham mulheres - ao todo são 25 que estão distribuídas por dois edifícios em moradas diferentes - e ali estão duas funcionárias a embalar carcaças, quatro em cada saco de plástico. Hão de ser distribuídas mais tarde no tal kit diário.
Mais para dentro ainda deste edifício térreo está a cozinha onde se confecionam as refeições, há um cheiro intenso a carne guisada e onde Marisa Matias troca dois dedos de conversa com as quatro funcionárias que ali estão a trabalhar.
A candidata presidencial apoiada pelo Bloco de Esquerda não se demora muito, percebe que conversar só atrapalha a preparação das refeições e é já fora das instalações que ouve Daniela Freitas, uma das diretoras técnicas desta associação, explicar que ali "sempre se fez um trabalho social com valências de creche, pré-escolar, centro de dia, apoio domiciliário e centro de convívio".
Daniela explica ainda que apoiam 90 crianças e 95 idosos e que desde o primeiro confinamento foi duplicada a capacidade do apoio domiciliário, de 20 a associação passou para 50 utentes "só em apoio domiciliário".
Se no primeiro confinamento esta Instituição de Solidariedade Social se manteve aberta e em pleno funcionamento, a promessa agora é de "manter tudo igual", pela razão simples de que "as pessoas precisam".
A diretora técnica da associação desabafa que "custa muito dizer que não, que não podemos" e, neste momento, ainda na sequência do primeiro confinamento, só têm "presencialmente as valências das crianças, os idosos estão todos com apoio em casa". E assim irá continuar, garante.
A visita de Marisa Matias às instalações não é inédita. A candidata presidencial já ali esteve há cerca de um mês e meio, fora do período oficial de campanha explicando que regressa agora precisamente em vésperas de um novo confinamento.
A candidata a Belém pega nas palavras de Daniela e perante a duplicação de idosos que têm de ter apoio da associação, defende que "é fundamental ter medidas para apoiar estas associações e de quem faz o trabalho de combate à pobreza".
Para Marisa Matias, neste momento é mesmo preciso "ter medidas de urgência para responder às situações de pobreza crescentes", salientando que o mandato do Presidente da República "não é apenas responder à emergência da pobreza é também criar as condições para começar a erradicar a pobreza".
A proposta da candidata é que isso "significa apostar na criação de emprego com direitos e de qualidade" para evitar que "tanta gente caia" numa situação como a de ter de pedir ajuda a esta associação.
Um dia depois do anúncio de um novo confinamento, para a candidata presidencial é “incompreensível que sejam decretadas medidas mais exigentes" e que "mais uma vez" se esteja "sem saber quais são os apoios para as pessoas poderem cumprir esse confinamento".
É "inaceitável", resume a candidata, reconhecendo que se deve "responder às recomendações das autoridades de saúde, os números são preocupantes", mas defende que não se pode pedir um regresso destes a casa "sem saber os apoios para as pessoas cumprirem o confinamento com dignidade".
Marisa Matias considera inaceitável que o Governo ainda não tenha posto em prática o plano de testes à Covid-19 nas escolas.
A candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda concorda com a manutenção das escolas abertas para todos os graus de ensino, mas é preciso avançar com o rastreio a professores, alunos e funcionários.
“Precisamos de fazer um grande plano de rastreio a todos os professores e profissionais das escolas, e aos alunos – mesmo que não seja a todos, que seja uma amostragem. O que eu não compreendo é não se por em prática o plano de rastreio, que já foi discutido e até já foi avançado no Parlamento”, afirma.
E sim, Marisa garante que a campanha é para prosseguir, que tem sido desenhada "sempre em linha com as recomendações das autoridades de saúde" e "ainda mais numa situação de confinamento", mas para a candidata é "fundamental ouvir as pessoas", porque, resume, "a pandemia tem números dramáticos, mas tem rostos".