Os ataques de Jair Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal são “um sinal de desespero” por parte do Presidente brasileiro, considera o embaixador Francisco Seixas da Costa.
A pouco mais de um ano das eleições gerais de 2022, e numa altura em que Lula da Silva aparece à frente do atual Presidente nas intenções de voto, o diplomata que representou Portugal em Brasília entre 2005 e 2009 reconhece, em declarações à Renascença, que a retórica usada por Bolsonaro nas manifestações desta terça-feira “são uma resposta à reversão das medidas tomadas contra Lula da Silva, puxando o tapete à investigação da 'Lava Jato' protagonizada pelo, então, juiz e, depois, ministro da Justiça Sérgio Moro”.
As sucessivas decisões dos 11 juízes que compõem o Supremo brasileiro puseram em causa a independência de Moro e “a legitimidade de todas as medidas que foram tomadas contra Lula, o que faz com que ele esteja num percurso progressivo de desligamento desse tipo de responsabilidades que, ao mesmo tempo, lhe vai garantindo uma imagem mais positiva do que aquela que tinha há uns meses”.
Nesta altura, todos os estudos de opinião brasileiros colocam o antigo Presidente eleito pelo PT à frente de Bolsonaro em todos os cenários.
A gestão da crise pandémica contribuiu para a queda a pique da popularidade do Presidente que, quando foi eleito, prometeu acabar com a corrupção e restituir o sentimento de segurança aos brasileiros.
“Neste momento, há um desgaste profundo do Bolsonaro, por causa da tragédia da Covid no Brasil e isso pode ser o fator de desempate em 2022”, admite Seixas da Costa.
“O Lula tem a grande vantagem de não haver um candidato do meio”, entre a esquerda e a direita, e “no passado, se as pessoas votaram Bolsonaro para evitar Lula ou qualquer coisa parecida, hoje, tendo tido a experiência Bolsonaro, as pessoas, se calhar, até votam Lula, mesmo que não gostem muito dele”, acrescenta o embaixador.
Golpe militar seria o regresso à “república das bananas”
Vários analistas e figuras de relevo na cena internacional chegaram a admitir que esta onda de apoio aos ataques de Jair Bolsonaro às instituições poderia ter como o objetivo um golpe militar impulsionado pelo Presidente brasileiro.
Perante esta eventualidade, Seixas da Costa diz que é necessário perceber de que lado estão os militares. Os que estão aposentados e, em muitos casos, beneficiam da proximidade ao Presidente, e os que são no quadro “e que sempre vi como respeitadores da ordem institucional durante os anos que vivi no Brasil”.
A verdade, diz o antigo embaixador no Brasil, é que “não sabemos exatamente onde é que acabam os militares na reserva com laivos de saudosismo em relação à ditadura militar e começam os militares no ativo”.
“Espero que as forças armadas brasileiras, não deixando de lutar pela sua dignidade e até contestando a circunstância do passado ser chamado muitas vezes para isto, colar isso a Bolsonaro seria transformar o Brasil, outra vez, numa espécie de república das bananas”, remata.