Todo os anos, surgem em Portugal 7.000 novos casos de cancro da mama, ao ritmo de 19 por dia. Com uma maior prevalência sobre as mulheres (2% de homens), o cancro da mama vitima mortalmente 1.500 mulheres por ano.
Dulce Carvalho, 59 anos, enfermeira gestora da unidade de cirurgia geral do IPO de Coimbra há mais de duas décadas, revela que os casos correspondem a mulheres "cada vez mais jovens". "Talvez devido a esta vida que levamos, ao stress e ao rastreio [há cada vez mais pessoas rastreadas]”, afirma a responsável em tarde de inauguração da mostra fotográfica “Sweet October”, de Ana Bee, no átrio do IPO de Coimbra.
A enfermeira Ana Filipa Sousa sublinha a necessidade de uma verdadeira empatia, “através da linguagem que deve ser direcionada e cuidada, de acordo com a singularidade de cada doente”.
“Nem sempre dizer a um doente que vai ficar tudo bem, numa alegria excêntrica, é o que ele quer ouvir”, diz a profissional de saúde.
A enfermeira Dulce Carvalho destaca, por isso, a importância do IPO de Coimbra acolher a “Sweet October”, concebida pela artista Ana Paula Lopes.
“Enquadra-se num movimento que ela criou de mostrar uma empatia de doentes que vivenciaram o cancro da mama e que dão o seu testemunho. Todas estas fotografias demonstram que estas pessoas estão de bem com elas próprias. Não só mulheres, nem só de Coimbra, mas também do IPO do Porto. Não esquecer que temos 2% dos homens”, diz Dulce Carvalho, enquanto aponta para uma das fotos que mostra um homem que recebeu o diagnóstico de cancro da mama.
Para a enfermeira gestora da unidade de cirurgia geral do IPO de Coimbra, “falta empatia e verdade nesta doença, demonstrando que é preciso colocarmo-nos no lugar do outro, mas nem sempre isso é fácil e por isso é que estamos cá, enquanto profissionais de saúde”, assume.
A exposição estará patente no átrio do edifício de Ambulatório do IPO de Coimbra, com acesso reservado, respeitando-se, deste modo, as condições de segurança recomendadas pela Direção-Geral da Saúde.
Este projeto, segundo a autora, Ana Bee, “é uma reflexão de empatia sobre as marcas de uma batalha, sendo uma evolução do 'Sweet December Projec't @sweetdecemberproject, lançado em dezembro de 2017, no Instagram. Este conjunto de autorretratos serviu como catarse para ultrapassar medos e ansiedades decorrentes do diagnóstico oncológico, ajudando a aceitar todas as alterações que este imputou à minha vida", descreve.
"Estender este projeto a outros doentes oncológicos, em particular, e ao público em geral decorreu do dever cívico que sentia com todas as pessoas que, como eu, sofriam em silêncio”, explica, acrescentando ser seu intuito “retirar o estigma associado a esta doença, fazendo com que as fotografias comuniquem ao mundo a realidade de um doente oncológico.
Ana Bee defende ainda que “a fotografia é uma ferramenta muito poderosa de comunicação, que permite atuar sobre o observador de uma forma ativa, pois estimula a sua condição humana ao ver retratado, de uma forma crua e sem preconceitos, a vida de alguém, vida essa que nos catapulta de volta para as nossas vidas direta ou indiretamente e nos faz questionar “E SE FOSSE COMIGO?”
A par das fotografias está associado um exercício de empatia escrito por um artista português convidado. Este movimento de empatia foi iniciado por 15 artistas (Alice Vieira, António Bizarro, Dirty Coal Train - Beatriz Rodrigues e Ricardo Ramos, Joana Barrios, João Gil, Jorge Palma, José Cid, Legendary Tigerman - Paulo Furtado, Lena d'Água, Moonspell - Fernando Ribeiro, Olavo Bilac, Rita Redshoes, Samuel Úria, Suzi Silva, Virgem Suta - Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo).
Assim, foi lançado, na página oficial do projeto, o movimento de empatia que desafia todas as pessoas que sintam poder contribuir para esta causa a realizar o seu próprio exercício de empatia.
Link para mais informações: www.facebook.com/sweetoctoberproject