Cinco anos de perseguição aos Rohingya. Minoria "deve fazer parte da solução" no Myanmar
25-08-2022 - 12:29
 • Renascença com Lusa

Os Rohingya, grupo étnico muçulmano, enfrentam violência e discriminação generalizada na antiga Birmânia, cuja população é maioritariamente budista.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu à junta militar que assumiu o poder em Myanmar (antiga Birmânia), em 2021, que inclua os rohingya numa solução para a crise política do país.

Há cinco anos, nesta data, mais de 700 mil mulheres, homens e crianças rohingya fugiram de Myanmar para o Bangladesh para escapar a alegados assassinos e violações em massa cometidas pelos militares.

O conflito de longa data começou faz hoje cinco anos, a 25 de agosto de 2017, quando os militares lançaram o que chamaram de uma campanha de limpeza na província de Rakhine, no oeste do país, em resposta a ataques contra a polícia e guardas fronteiriços por militantes rohingya.

Guterres sublinhou “as aspirações incansáveis por um futuro inclusivo” para os rohingya, que enfrentam discriminação generalizada em Myanmar, cuja população é de maioria budista, disse na quarta-feira o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.

As autoridades birmanesas têm negado cidadania à maioria dos rohingya, alegando que são imigrantes ilegais.

Em janeiro de 2020, o Tribunal Internacional de Justiça, o principal tribunal da ONU, ordenou que Myanmar fizesse tudo o que fosse possível para evitar um genocídio contra os rohingyas.

Dois dias antes, uma comissão independente, criada pelo então governo civil de Myanmar, concluiu que havia razões para acreditar que as forças de segurança tinham cometido crimes de guerra contra os rohingya, mas não genocídio.

Dujarric disse que “os autores de todos os crimes internacionais cometidos em Myanmar devem ser responsabilizados”, acrescentando que “a justiça para as vítimas contribuirá para um futuro político sustentável e inclusivo para o país e o seu povo”.

O porta-voz da ONU lamentou não haver perspetivas imediatas de retorno dos rohingyas, observando que mais de 150 mil estão ainda confinados em campos no estado de Rakhine, em Myanmar.

Depois da tomada do poder pela junta militar, em fevereiro do ano passado, “a situação humanitária, de direitos humanos e de segurança em Myanmar deteriorou-se”, disse Dujarric.

António Guterres “sublinha que a participação plena e efetiva do povo rohingya é parte inerente de uma solução liderada por Myanmar para a crise”, salientou.

"É fundamental que a comunidade internacional continue a procurar soluções abrangentes, duráveis e inclusivas para a crise,” defendeu o secretário-geral da ONU.

O porta-voz Dujarric acrescentou que um maior acesso às áreas afetadas por funcionários humanitários e de desenvolvimento da ONU e parceiros “é crucial”.

Na segunda-feira, mais de 860 organizações não-governamentais (ONG) pediram à Assembleia-Geral da ONU que elimine o cargo de enviado especial para Myanmar, que entendem ter servido para legitimar a junta militar.

O pedido, enviado através de uma carta, ocorreu depois de a atual enviada especial da ONU para Myanmar, Noeleen Heyzer, ter visitado o país na semana passada e mantido um encontrado com o chefe da junta militar, Min Aung Hlaing, em Naypyidaw.