O bispo Vitalyi Krivitsky, 50 anos, fez a sua entrada solene na diocese de Kiev-Zhytomyr em 2017. Natural de Odessa, no sul da Ucrânia, toda a sua formação foi salesiana.
Poucos dias antes da Jornada Mundial da Juventude, em plena Peregrinação das Dioceses ucranianas, o prelado não teve mãos a medir a confortar muitos católicos que dele se aproximavam com muitas expressões de dor. O peso da dor parece criar um ódio que não deixa antever um possível perdão do inimigo, nem mesmo vislumbrar um qualquer diálogo.
A Guerra travou a presença de muitos jovens ucranianos na Jornada Mundial da Juventude que conta com a presença do Papa Francisco. Como podemos descrever a juventude ucraniana neste momento?
A Ucrânia ainda está a lutar, continua a lutar. A todas as pessoas que estão unidas a nós queremos dizer que elas estão do lado da verdade. Não lutamos por território, lutamos por direitos humanos, pelo direito de sermos pessoas livres. Vemos muitos exemplos de como Deus nos está a apoiar. Depois de tantos dias, Deus continua a fazer milagres. E nós damos testemunho disso.
Podemos dizer que nem toda a gente está totalmente ciente de tudo o que está a acontecer. A nossa juventude precisa de mais diálogo com o Papa. Embora seja um pequeno grupo de jovens da Ucrânia, eles aí estão para o acolher.
Como se remove algum ódio que pode crescer no coração de um menino que perde o pai lutando na guerra ? Esta criança poderá crescer a odiar os russos, o inimigo. Como Bispo, como homem de fé , como se tira esse ódio destes corações?
É um desafio muito, muito grande para nós. Nos últimos 80 anos não nos confrontámos com as consequências de uma guerra como esta. Nós mesmos deparamo-nos com situações em que não temos um contra-argumento. E entendemos que é esta parte que, sem a ajuda de Deus, sem a sua Graça, não podemos ultrapassar.
Estamos diante desse desafio e temos que continuar com a nossa fé. Há sinais à nossa frente de outras nações, países que vivem em paz, que nos mostram que existe uma forma de mudar a nossa mentalidade.
Hoje é difícil falar em perdão a todos esses jovens que perderam os pais, um irmão ou uma irmã por causa da guerra. Nós entendemos e teremos que voltar a isso nalgum momento mais à frente. Neste momento, diante dessas feridas que temos nos nossos corações, só podemos dizer que vamos ter que tratar disso.
Eu mesmo, cada um de nós, temos que convidar o Deus vivo a voltar para nós. Aqui é onde tudo começa. No momento em que nos encontramos em que não podemos fazer algo, é exatamente o momento em que deixamos Deus fazer tudo o resto. Da nossa parte temos que fazer tudo o que for possível e deixar Deus fazer tudo o resto.