No começo da terceira e última semana de trabalho do sínodo sobre a família, que decorre desde o dia 4 de Outubro, em Roma, o patriarca latino de Jerusalém participou no "briefing" diário organizado pela Sala de Imprensa da Santa Sé para dizer que a questão do acesso aos sacramentos para pessoas em união irregular não tem sido o tema principal do sínodo, por mais que tenha dominado praticamente todas as conversas fora da aula sinodal, incluindo nas próprias conferências de imprensa diárias.
O patriarca recordou que em grande parte do Médio Oriente não há sequer casamento civil, pelo que a questão de divorciados recasados civilmente não se põe.
“Não creio, de modo nenhum, que esse tema tenha sido o ponto principal do Sínodo. Talvez tenha mesmo sido um dos últimos pontos. O sínodo trata das famílias e dos seus desafios e como nós as podemos ajudar a superar as dificuldades. Não creio que o nosso esforço esteja apenas focado nesses problemas.”
“No meu caso, temos tantos outros problemas, no Médio Oriente, na Jordânia, na Palestina, onde essas questões não se colocam. Nós lá nem temos casamento civil, só temos casamento religioso e tantos outros desafios e problemas do Ocidente e da América lá não existem! Temos muitos problemas, mas não esses”, sublinhou.
Alterar a linguagem, pelo menos
Na mesma conferência de imprensa participou o arcebispo australiano Mark Coleridge, um dos relatores dos pequenos grupos de trabalho, um dos padres sinodais que mais tem falado para a imprensa sobre o que se passa no interior da aula sinodal. O bispo tem, inclusivamente, um blogue no site da arquidiocese de Brisbane, que vai mantendo a um ritmo quase diário.
O arcebispo diz que não acredita que haja alterações de ensinamento da Igreja no que diz respeito a questões como o acesso aos sacramentos ou à homossexualidade, mas diz que seria mau terminar o sínodo sem pelo menos uma alteração de linguagem que ajude as pessoas a sentirem-se menos excluídas.
Como exemplo, o arcebispo Coleridge refere a palavra adultério, explicando que embora ele compreenda e aceite o ensinamento da Igreja que trata segundas uniões como adultério, mas diz que não se pode, pastoralmente, equiparar um segundo casamento sólido, em que existem filhos e os esposos se apoiam mutuamente com uma aventura extramarital entre duas pessoas casadas. Estes factos exigem, diz o bispo, uma resposta pastoral que saiba aplicar a doutrina da Igreja com atenção aos casos concretos.
Trabalhos a caminho do fim
O sínodo prossegue ainda esta semana, com a elaboração dos relatórios dos grupos de trabalho que serão lidos ao fim do dia de terça-feira e divulgados publicamente na quarta. Na quarta-feira os participantes do sínodo não se vão reunir, mas a comissão responsável por redigir o documento final estará a trabalhar para que uma primeira versão possa ser votada na quinta-feira. Nessa altura serão ainda propostas alterações e uma versão final será votada, parágrafo a parágrafo, no domingo dia 25 de Outubro.
Esse documento final será então entregue ao Papa Francisco que poderá fazer com ele o que bem entender. Tradicionalmente os papas escrevem uma exortação apostólica, mas neste caso já foi levantada a possibilidade de Francisco simplesmente aceitar o documento final dos bispos como definitivo, pese embora vários bispos tenham insistido na necessidade de Francisco intervir para resumir e completar o processo.