A artista multidisciplinar e escritora portuguesa Grada Kilomba integra o grupo de quatro curadores que vão dirigir a 35.ª Bienal de São Paulo, em 2023, escolhidos pela proposta "ambiciosa e intrigante" apresentada, anunciou a organização.
A próxima edição da Bienal de São Paulo contará ainda no coletivo curatorial com o historiador de arte Manuel Borja-Villel, a curadora independente, escritora e pesquisadora Diane Lima e o antropólogo, crítico e investigador Hélio Menezes, segundo o sítio ´online´ da Fundação Bienal de São Paulo.
"A complementaridade desses talentos tem potencial para gerar um resultado fantástico", considera o presidente da fundação, José Olympio da Veiga Pereira, citado num texto sobre a seleção, acrescentando que a equipa "formou-se voluntariamente, e a proposta cativou [a Bienal] por ser ambiciosa e intrigante".
Este modelo curatorial, sem a figura de um curador-chefe, tinha sido adotado nas edições de 1989, 2010 e 2014 da Bienal.
"A ideia de formar um grupo com uma relação horizontal, sem a figura de um curador-chefe, foi uma sugestão da própria equipe de curadores e será uma parte constituinte do projeto da 35.ª Bienal", explicitou ainda José Olympio.
Nos perfis da apresentação dos curadores convidados, a organização decidiu não incluir categorias normativas como nação, nacionalidade e ano de nascimento, "uma diretriz que fará parte de todo o processo da 35.ª Bienal".
Grada Kilomba, que vive em Berlim, na Alemanha, é uma artista interdisciplinar, escritora e investigadora doutorada em Filosofia pela Universidade Livre de Berlim, e que tem vindo a lecionar em diversas universidades internacionais, como a Universidade de Artes de Viena, na Áustria.
No seu trabalho, a artista tem tratado as questões do racismo, do trauma colonial, das vozes silenciadas e de género, e foi uma de cinco artistas convidados a apresentar uma proposta para a criação de um memorial da escravatura em Lisboa, concurso que haveria de escolher a do artista angolano Kiluanji Kia Henda.
As obras de Kilomba levantam ainda questões sobre o conhecimento, o poder e a violência cíclica, tendo sido exibidas em eventos como a 10.ª Bienal de Berlim, a Documenta 14, a Bienal de Lubumbashi VI, e a 32.ª Bienal de São Paulo, assim como em vários museus e teatros internacionais.
Como suportes, tem escolhido a performance, a leitura cénica, textos, vídeo e instalação, focando-se nos temas da memória, trauma, género e pós-colonialismo, estando representada em coleções públicas e privadas como a da Tate Modern, em Londres.
O seu projeto "A Ferida", com curadoria de Bruno Leitão, estava entre as propostas apresentadas na sequência de convites feitos pela Direção-Geral das Artes para o concurso da escolha do projeto curatorial e expositivo da representação de Portugal na 59.ª Bienal de Arte de Veneza, que decorre este ano entre abril e novembro.