As filhas de Vladimir Putin são dois dos alvos da nova ronda de sanções à Rússia anunciada pelos Estados Unidos da América pela invasão da Ucrânia.
A existência de Katerina Tikhonova e Maria Vorontsova nunca foi confirmada pelo próprio Putin ou pelo Kremlin e nenhuma fotografia de ambas em idade adulta foi alguma vez divulgada oficialmente, mas os EUA acreditam que seja na família direta que está escondida a riqueza pessoal do presidente russo.
“Temos razões para acreditar que Putin e muitos dos seus amigos íntimos e oligarcas escondem a sua riqueza e bens em membros da família, que os colocam no sistema financeiros dos EUA”, avançou um membro da administração de Biden à "Reuters", como justificação para as sanções aplicadas esta quarta-feira.
Quem são as filhas de Putin?
Filhas do casamento de Vladimir Putin com Lyudmila Putina, quando este era agente do serviço de inteligência soviético KGB e a mulher era comissária de bordo, Maria e Katerina estudaram na Rússia e foram raras as vezes em que Putin falou sobre elas em público.
Em 2015, na habitual conferência de imprensa de final de ano, o presidente russo disse estar “orgulhoso” de ambas. “As minhas filhas falam três línguas europeias fluentemente. Nunca foram ‘crianças-modelo’, nunca tiveram o prazer dos holofotes apontados a elas. Apenas vivem as suas vidas”, disse, acrescentando que nenhuma estava “envolvida em negócios ou política”.
Segundo uma investigação da "Reuters", Katerina, a filha mais nova, nasceu em 1986, em Dresden, na antiga República Democrática Alemã, quando Putin era ainda um agente do KGB, estudou nas universidades estatais de Moscovo e São Petersburgo e tem um mestrado em Física e Matemática. Tornou-se conhecida do grande público em 2013, após ter ficado em quinto nos campeonatos do mundo de dança acrobática.
Nesse mesmo ano casou com Kirill Shamalov, acionista da Sibur, uma das maiores empresas da indústria petroquímica, e filho do oligarca Nikolai Shamalov, amigo íntimo de Putin e um dos donos do Bank Rossiya, apelidado pelos EUA do “banco pessoal” de altos representantes do Kremlin - pai e filho foram alguns dos primeiros alvos das sanções norte-americanas, em março de 2022. Segundo o "Guardian", Kirill e Katerina viriam a divorciar-se em 2018.
Depois de vários cargos da Universidade Estatal de Moscovo, Katerina foi nomeada a líder do novo centro de investigação especializado em inteligência artificial, o Innopraktika, um instituto com um orçamento superior a 1,5 mil milhões de euros que Putin descreveu como um dos pontos principais da “estratégia nacional” no desenvolvimento desta tecnologia. Como adjuntos na universidade tem cinco membros do círculo próximo de Putin, incluindo dois antigos oficiais do KGB.
De acordo com a mesma investigação da "Reuters", a filha mais velha de Putin, Maria, estudou Biologia na Universidade de São Petersburgo e Medicina na faculdade estatal de Moscovo, especializando-se no sistema endócrino e tornando-se a principal investigadora do Centro Nacional de Investigação Médica para Endocrinologia do Ministério da Saúde da Rússia. Os EUA acusam-na de liderar programas governamentais de pesquisa na área da genética que receberam milhares de milhões de euros do Kremlin e que são “supervisionados pessoalmente por Putin”. Em 2013 casou-se com o empresário holandês Jorrit Joost Faassen, ligado ao Gazprombank, um dos bancos com associações ao círculo de Putin.
Por que estão Maria e Katerina a ser alvos de sanções?
Esta quarta-feira, o Departamento do Tesouro anunciou os novos alvos de sanções a Moscovo pela invasão da Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro, incluindo na lista Katerina Vladimirovna Tikhonova e Maria Vladimirovna Vorontsova por serem “filhas adultas de Putin”, congelando os “bens e lucros” em solo norte-americano.
Uma das razões para terem sido incluídas nesta lista é a crença dos EUA de que Putin esconde a sua riqueza no seu círculo familiar. As suas declarações de impostos mostram um homem humilde, com ganhos anuais quase sempre inferiores a 10 milhões de rublos (cerca de 115 mil euros), apenas dois pequenos apartamentos e um lugar de garagem.
No entanto, as filhas vivem muito melhor: a investigação da "Reuters" mostrava que Katerina e Kirill Shamalov tinham em 2015 uma riqueza estimada de 1,83 mil milhões de euros, graças, em parte, às ações do empresário na petroquímica Sibur. Entre as propriedades do casal estava registada a casa de campo Alta Mira, situada em Biarritz, França, avaliada em mais de três milhões de euros, que no último mês foi ocupada por ativistas anti Putin.
A mesma investigação avançou também que a filha mais nova do presidente russo assinou contratos no valor de vários milhões de euros com organizações estatais por trabalhos na universidade, não existindo confirmação sobre se terá tido benefícios pessoais destes trabalhos.