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O presidente da Câmara de Oliveira do Hospital considera que “algumas pessoas ainda não perceberam o que aconteceu” no concelho em Outubro.
“Discute-se como se fosse um fogo. Isto não foi um fogo, foi um tufão. Ando farto de declamar isto para alguns urbanos perceberem o que se passou aqui”, afirma José Carlos Alexandrino à Renascença, esta quarta-feira.
“Todas as 22 mil pessoas de Oliveira do Hospital têm uma história para contar. Uma história desta noite. Todos”, reforça.
“Temos 84 aldeias e o fogo entrou em todas elas no prazo aí de três horas. E arderam casas em todas elas”, diz ainda.
Passado um mês dos incêndios que afectaram a região, o presidente da autarquia diz que as dificuldades e os problemas foram aparecendo e existe nesta altura um clima de indignação, sobretudo no sector da agricultura social.
“Os apoios não são suficientes e são complexos através do PDR 2020. É fundamental o Governo agilizar estes processos”, pede.
O autarca refere-se, nomeadamente, aos pequenos agricultores sem actividade registada. “Dou-lhe um exemplo: uma pessoa que cortava pinheiros, que tem um tractor e que faz uns metros de lenha e tem umas terras. São coisas simples e estas pessoas ficam sem apoio”.
Admitindo que o ministro da Agricultura tem mostrado vontade em ajudar e que já “houve algumas respostas”, José Carlos Alexandrino insiste na reivindicação: “Queremos que todos tenham esses apoios em igualdade de circunstâncias”.
O sentimento de indignação estende-se a mais vítimas. Esta quarta-feira, durante o programa Manhã da Renascença feito a partir de Oliveira do Hospital, o presidente da Associação de Apoio às Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal critica a disparidade de respostas do Governo face aos incêndios de Junho.
“As empresas aqui são menos apoiadas do que as empresas foram em Pedrógão e a agricultura é menos apoiada do que a indústria”, criticou Luís Lago.
Por tudo isto está a ser ponderada uma deslocação a Lisboa.
“É natural que esse clima se possa vir a traduzir numa descida a Lisboa para as pessoas, todas unidas, reerguerem a sua voz em defesa deste Portugal mais profundo”, afirma o presidente da Câmara, apoiado pelo presidente da associação de apoio às vítimas.
“Estamos na disposição de engrossar e apoiar o movimento. Temos de ir a Lisboa e vamos colocar uma acção colectiva contra o Estado se nas próximas semanas não assumir a sua responsabilidade”, reforça Luís Lago.
Queijo da Serra em risco
Mais de cinco mil animais, entre ovinos e caprinos, morreram nos incêndios de 15 de Outubro. “Como sabem, Oliveira do Hospital tem como ‘ex-libris’ o queijo da Serra da Estrela”, lembra José Carlos Alexandrino.
O queijo está, por isso, “em risco e poderá não se poder recuperar”, avança.
Em Fevereiro, os criadores de ovinos da Serra da Estela já alertavam para a situação preocupante da falta de ovelhas para a produção deste queijo.
Quanto aos animais que sobreviveram, mas ficaram sem pasto, a Câmara lançou “logo um plano de acção” para fazer chegar comida e água às explorações.
No plano das habitações, 170 casas de primeira habitação foram afectadas pelo incêndio, total ou parcialmente. “Muitas das pessoas ficaram absolutamente sem nada, só com a roupa que traziam no corpo”, indica o autarca.
“Criámos um fundo de emergência, uma estrutura de proximidade também com todos os presidentes de Junta, que têm sido actores fundamentais no território, pela sua proximidade, pela identificação dos casos e, por isso, estamos a acompanhar muito estes casos e centenas de famílias”, afirma ainda.
Para aquelas habitações que sofreram poucos danos, “que tinham ardido as janelas, que tinha caído o seu telhado”, a Câmara “lançou um conjunto de recuperações” com recurso a “pequenos empreiteiros do município e temos neste momento 10 casas já recuperadas com as famílias com todas as condições”, anuncia também José Carlos Alexandrino.
Do que precisa a população de Oliveira do Hospital?
Segundo o presidente da Câmara, “vestuário e alimentação não são prioritários”.
Nesta altura, em que se incide a acção na reconstrução das casas de primeira habitação, há bens especialmente necessários, como electrodomésticos e mobílias.
“Já agora deixo também uma palavra de agradecimento aos portugueses, porque tem havido uma corrente de solidariedade enorme”, sublinha José Carlos Alexandrino.
O presidente da Câmara de Oliveira do Hospital foi um dos convidados da emissão especial da Manhã da Renascença desta quarta-feira. No final do programa, o autarca aproveitou para deixar críticas ao desinvestimento de “sucessivos governos” no interior, quando “o que deve ser feito, neste Interior, para termos um Portugal coeso e solidário, é investimento. Porque o interior não é uma despesa, é uma oportunidade”.