A contraofensiva ucraniana não deve ser condicionada por datas simbólicas, defende o major-general Arnaut Moreira, em declarações à Renascença.
Em causa está o facto de vários analistas terem admitido a possibilidade de Kiev dar início às operações militares, aproveitando o peso simbólico do Dia da Europa que, em Moscovo, é o Dia da Vitória, que evoca a rendição do exército nazi diante das forças soviéticas, pondo fim à Segunda Guerra Mundial.
“As datas da Federação Russa são importantes para a Federação Russa, mas não devem condicionar a manobra ucraniana”, refere Arnaut Moreira.
Por outro lado, o militar lembra que “a capacidade militar ucraniana está dependente dos apoios internacionais que vão chegar”, sublinhando que “o que é importante é que a contraofensiva seja mais eficaz do que simbólica”.
Putin vs. Wagner. Quem manda na guerra?
A conquista de Bakhmut é, agora, o objetivo estratégico para russos e ucranianos.
Os relatos mais recentes indicam que a cidade está praticamente tomada pelas forças pró-russas e que as forças ucranianas controlam apenas 2,5 quilómetros quadrados.
As imagens reveladas pelas agências internacionais documentam um cenário de enorme destruição.
No entanto, do lado russo, a batalha tem sido travada, não pelo exército de Moscovo, mas pelos mercenários do grupo Wagner.
Nos últimos dias, o chefe do grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, admitiu uma retirada da frente de batalha, em protesto contra o que dizia ser a falta de munições prometidas por Moscovo para levar a cabo a ofensiva.
Questionado sobre a influência dos mercenários nesta fase do conflito, o general Arnaut Moreira lembra que, apesar das ameaças do líder mercenário, “os alvos de Prigozhin estão dentro da estrutura do Ministério da Defesa. Ele entende que o conjunto de prioridades dos apoios de combate não têm sido convenientemente estudados”.
“Ele nunca se atreveu a contestar Putin diretamente. Portanto, Putin continua a ser a personalidade que lidera esta guerra”, acrescenta.
Grandes números e fracasso da tática russa
Enquanto isso, a guerra na Ucrânia prolonga-se indefinidamente entre países com uma mobilização militar altamente díspar.
Na análise do major-general Arnaut Moreira, os grandes números da mobilização russa não disfarçam o fracasso da tática militar de Moscovo: “a Rússia teve a oportunidade de ter em combate um número de combatentes muito superior àquilo que o exército ucraniano tem conseguido colocar. Era de esperar que isto se traduzisse num conjunto de ações de natureza ofensiva. Isso não ocorreu”.
Comparando as capacidades operacionais de ambos os lados do conflito, Arnaut Moreira regista que “os ganhos territoriais, nalguns casos e em alguns dos meses, foram inferiores a 100 quilómetros quadrados. Isso não é nada, em face da quantidade de novos recursos humanos colocados na guerra”.