A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) descreve um cenário de centenas de pessoas em fuga de Palma, a cidade, no Norte de Moçambique, onde há uma semana começaram vários ataques violentos levados a cabo por um grupo armado.
“Ouvimos repetidamente que tudo o que querem é ir embora. Eles estão apavorados, a maioria está em choque, desidratada e com fome”, descreve Sylvie Kaczmarczyk, coordenadora dos MSF no local.
No comunicado enviado às redações, Sylvie relata que entre os feridos há grávidas, recém-nascidos e crianças, numa situação de “partir o coração”.
“Cuidámos de um bebé com um ferimento de bala, grávidas que chegam em péssimas condições, entre elas uma mulher aparentemente com sete meses de gestação, sofreu uma hemorragia e perdeu a criança. As mães chegam com seus recém-nascidos, alguns apenas com um dia de vida em condições muito difíceis. A maioria das mães vistas pela equipa estava em choque, desidratada e sem comer há horas e incapazes de alimentar os seus bebés”, descreve.
Uma equipa dos Médicos Sem Fronteiras está na península de Afungi, a cerca de 25 quilómetros da cidade de Palma, e há outras equipas em Mueda, Nangade, Montepuez, Pemba e Macomia para apoiar as necessidades médicas e humanitárias das pessoas que fogem de Palma.
Os ataques em Palma, iniciados na quarta-feira da semana passada, já fizeram dezenas de mortos.
"Um grupo de terroristas penetrou, dissimuladamente, na vila sede do distrito de Palma e desencadeou ações que culminaram com o assassinato cobarde de dezenas de pessoas indefesas e danos materiais em algumas infraestruturas do Governo", afirmou Omar Saranga, porta-voz do Ministério da Defesa Nacional de Moçambique.
A violência que grassa desde outubro de 2017 no norte de Moçambique está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI) entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.