O Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários e Urbanos de Portugal critica o processo de privatização a que os funcionários do Metro de Lisboa foram sujeitos e denuncia os efeitos verificados ao nível do serviço.
Num comunicado enviado às redacções, o sindicato fala em contratos ilegais, falta de maquinistas, de fiscalização, trabalhadores desgastados e vias cada vez mais descuradas em termos de manutenção e limpeza.
Nada que os utentes já não tenham reparado. Numa sondagem rápida pelas linhas do Metro de Lisboa, a Renascença ouviu queixas de atrasos, carruagens insuficientes e “a abarrotar” e falta de limpeza nas estações.
A sindicalista Anabela Carvalheira acrescenta que há “mais de 10 comboios parados no parque das oficinas e falta de trabalhadores que possam fazer os serviços certos”.
Na origem desta situação está, de acordo com o sindicato, o processo de privatização iniciado “nos últimos quatro anos de governação da maioria PSD/CDS-PP”, durante o qual se “empurraram mais de 300 trabalhadores para ‘rescisões amigáveis’ e para o desemprego, descapitalizaram a empresa, encerraram 18 postos de vendas, diminuíram o número de carruagens na linha verde, aumentaram o tempo de intervalo entre comboios, diminuíram a velocidade de circulação de 60 para 45Km/h, degradaram a manutenção e a limpeza de comboios e estações”.
“Passou-se de uma exploração comercial onde raramente se registavam atrasos, interrupções ou supressões, para o seu oposto, com incidentes de exploração todos os dias”, conclui o comunicado.
Trabalhadores “comprados” com contratos ilegais
Anabela Carvalheira, do STURP, afirma à Renascença que, depois de publicado o decreto-lei que põe termo à fusão das empresas Metropolitano de Lisboa, Carris, Transtejo e Soflusa, foram contratrados técnicos como se a fusão tivesse sido concretizada.
“Mesmo após a decisão do Governo e a promulgação do Presidente da República, continuam a ser promovidas pessoas, nomeadamente técnicos superiores que assumem contratos com as quatro empresas”, aponta.
Segundo a representante dos trabalhadores do Metro, estas promoções são aceites por “porque têm aumentos salariais brutais”. A sindicalista fala em “compra dos trabalhadores” e diz que assim se está a “dificultar a separação” das empresas de transportes.
Condições de trabalho precárias
No que toca às condições de trabalho, a nota refere que se exige o mesmo trabalho (a mesma oferta) mas com menos trabalhadores, o que resulta em mais acidentes de trabalho.
A isto, “junta-se aquilo de que ninguém fala, nem assume: é que o trabalho em subsolo potencia o aumento de doenças crónicas nos trabalhadores, sendo que nesta altura a Medicina do Trabalho, seguramente a mando da direcção da empresa, tem feito um trabalho lastimável, contrariando o que no passado acontecia”, destaca-se.
O Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários e Urbanos de Portugal termina o comunicado com uma pergunta e um apelo: “quem manda ou quem mente? O Governo ou o Conselho de Administração que nos foi apresentado com pompa e circunstância, como sendo os seus homens de confiança, com a promessa de que tudo iria mudar? Deixemo-nos de falsas promessas, passemos das palavras aos actos”.
Sem avançarem para outras formas de luta, os trabalhadores do Metro, representados por uma delegação da CGTP, reúnem-se na próxima semana, dia 22, com o Governo e pedem desde já novas contratações.
[Notícia actualizada às 11h00]