Quase 70% dos doentes com Covid-19 internados nos cuidados intensivos têm menos de 59 anos, segundo dados recolhidos pela Ordem dos Médicos, que apontam que em enfermaria os doentes abaixo dessa faixa etária são cerca de metade. O Bastonário da Ordem dos Médicos não tem dúvidas que os números traduzem o efeito da vacinação.
À Renascença, Miguel Guimarães diz, esta terça-feira, que “a vacinação está a mudar aquilo que é o paradigma das pessoas internadas em enfermaria e, consequentemente, o paradigma das pessoas internadas em cuidados intensivos”.
“Os dados mostram que a vacina está a ter um efeito tremendo naquilo que é a proteção que confere às pessoas em termos de doença grave mas, também, na própria proteção que está a ter em termos daquilo que é a probabilidade da pessoa ficar infetada. Ou seja, se a pessoa está vacinada, é mais difícil ficar infetada. A vacina dá uma proteção que andará entre os 70 e os 80%, já há alguns estudos publicados nesta matéria embora seja preciso mais evidência”, explica.
O Bastonário da Ordem dos Médicos diz-se contudo preocupado com o aumento de mortes nas faixas etárias mais avançadas que Portugal tem vindo a registar admitindo que “o grupo etário dos mais de 80 anos tem de ser estudado para se perceber o que está a acontecer”.
“A verdade é que em termos de óbitos continuamos a ter aqui – em termos percentuais e absolutos daquilo que é a população com ou mais de 80 anos- que são preocupantes e que têm de ser estudados. Provavelmente tem que ver com o facto de as vacinas irem perdendo eficácia com o tempo. Ainda não há dados seguros sobre quando é que será necessário fazer novamente a vacina, mas isto é uma área que merece um estudo mais aprofundado”, admite.
Com mais de 51% da população portuguesa completamente vacinada e no dia em que o Governo volta a ouvir os especialistas para decidir o eventual alívio de restrições, Miguel Guimarães entende que algumas medidas como as restrições horárias “são incompreensíveis” até porque “a evolução da pandemia neste momento é favorável”.
“O vírus não fica parado ao fim de semana, não se deita durante a noite, nem faz férias. Portanto, as medidas como restrições nos horários não fazem sentido. Penso que o governo vai levantar essa medida nomeadamente nos restaurantes e que vamos estar cada vez mais dependentes de medidas sanitárias básicas como o uso de máscara, o distanciamento e a utilização do Certificado Digital Covid-19. E é bom que as pessoas tenham noção que estas medidas são essenciais para fazermos a vida normal, para que a economia funcione e não se esqueçam que a pandemia ainda cá está”, alerta.
O Bastonário da Ordem dos Médicos considera, no entanto, que este ainda não é o momento oportuno para que a máscara deixe de ser obrigatória em espaços ao ar livre sublinhando que “a máscara é uma das medidas mais importantes que temos”. Miguel Guimarães entende que medidas esta devem ser ponderadas só em setembro, altura em que praticamente toda a população deverá estar toda vacinada.