A coordenadora do Grupo VITA - grupo de acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal - diz que estão a ser recebidos diariamente pedidos de ajuda de alegadas vítimas.
"Todos os dias continuamos a receber pedidos de ajuda", diz Rute Agulhas à Renascença, sem, contudo, revelar números. O único dado conhecido é o de que foram registadas 16 chamadas nos primeiros cinco dias de funcionamento da linha. “É prematuro dizer agora o número, mas esse número aumenta e aumenta diariamente”, assegura.
O VITA apresentará o primeiro relatório a 12 de dezembro, em Lisboa.
Nestas declarações à Renascença, Rute Agulhas classifica de "muito importante" o encontro previsto do Papa com vítimas de abusos da Igreja em Portugal, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, e sublinha que o gesto de Francisco tem o objetivo de “transmitir a mensagem de que a Igreja acredita nas vítimas e está do seu lado”.
Rute Agulhas exorta todos os que se sentem vítimas de abuso a contactarem o Grupo VITA através da linha disponibilizada para o efeito: 91 5090000.
Como avalia o gesto do Papa em querer encontrar-se com vítimas de abusos no âmbito da Igreja em Portugal?
Acho que é um gesto muito importante e não só para as pessoas, essas mesmas vítimas que vão ter a oportunidade de estar com o Papa, de olhá-lo nos olhos e de ouvir as palavras dele que, acredito, serão muito, muito importantes e muito encorajadoras. É importante também pelo efeito simbólico, ou seja, todas as outras vítimas que, não estando lá fisicamente presentes, se vão rever, se vão projetar, vão identificar-se com estas vítimas que estarão com o Papa. Acaba por ser um gesto com um valor real, muito importante, mas também um valor simbólico.
Será também importante para, de algum modo, desbloquear situações de alguma desconfiança que ainda possam subsistir?
Acredito que este gesto tem também essa importância, que é, no fundo, transmitir uma mensagem clara a todas as vítimas: a mensagem de que a Igreja acredita nelas, que a Igreja está do lado delas e de que a Igreja tudo fará para as ajudar.
Este gesto do Papa é também um sinal da vontade do Papa de manter o tema na agenda, face à importância que lhe atribui?
Sem dúvida. Desde o primeiro minuto que o Papa Francisco transmitiu esta ideia de forma muito clara, não apenas por palavras, mas também por ações, na medida em que tem havido uma pressão para que todos os países desenvolvam esforços no sentido de criar estruturas não apenas de diagnóstico, de retrato da situação, mas também, acima de tudo, de resposta. É, no fundo, o que estamos a fazer também em Portugal, depois do primeiro retrato de um primeiro diagnóstico da situação. Neste momento, estamos aqui empenhados, enquanto grupo VITA, em acolher as situações que nos chegam, mas, mais do que isso, em dar o devido acompanhamento, em encaminhar para os serviços de apoio. Portanto, é fundamental este gesto que traduz todo este esforço por parte da Igreja.
O grupo VITA fará, mais à frente, um balanço da sua atividade, do seu trabalho. Nesta altura, relativamente ao número de casos reportados ainda recentemente, há alguma evolução ou não?
A evolução é diária. Todos os dias continuamos a receber pedidos de ajuda.
Faremos, oportunamente, novo balanço, mas, mais do que os números, acho que é importante salientar que as pessoas que nos procuram não estão, muitas delas, apenas a relatar a sua situação. Ou seja, isso não lhes basta, como terá acontecido com muitas que, provavelmente, procuraram a comissão independente na perspetiva de fazer o seu primeiro relato na sua na vida, não é? E a situação ficava um pouco por ali... Neste momento, estamos a receber muitos pedidos.
Quanto ao número de denúncias, foi referido o de 16...
Foram 16 nos primeiros cinco dias de funcionamento da linha. A linha já está em funcionamento há quase três semanas.
Os números já foram atualizados depois disso?
Já. O número já aumentou. Não vou partilhar. É prematuro dizer agora o número, mas o número aumenta, e aumenta diariamente.