Abusos. D. José Ornelas não quer "caça às bruxas" no tratamento dos casos de padres suspeitos
13-02-2023 - 17:07
 • João Carlos Malta

Questão dos abusos sexuais no seio da Igreja deve, na ótica do presidente da CEP, ser um dos temas da Jornada Mundial da Juventude, que decorre este ano na primeira semana de Agosto em LIsboa.

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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, não quis dizer categoricamente se da lista de suspeitos que a Comissão Independente recolheu, resultará o afastamento dos padres envolvidos nos relatos. "Cada caso é um caso”, disse em resposta aos jornalistas na conferência de imprensa para analisar os dados dos abusos sexuais no seio da Igreja, que esta segunda-feira foram conhecidos.

"Para não andarmos à caça de bruxas, para que quem realmente cometeu crimes seja punido”, acrescentou, manifestando a necessidade de investigar a plausibilidade de cada denuncia.

Mas deixou uma garantia: "Os abusadores de menores não podem ter cargos dentro do ministério”. “Desde que seja provado, não têm lugar”, sublinhou. A prova terá de ser feita nos tribunais comuns ou pelos órgãos competentes da Santa Sé.

Em relação a haver bispos conhecedores dos casos, e os ocultaram, Ornelas avançou que não antecipa "cenários sem saber o que se está a tratar".

Referiu que alegada ocultação tem de se colocar no contexto, naquilo que se sabia à época, e que o surpreendeu os dados divulgados pela equipa de Pedro Stretch. Avançam, na óptica do líder da CEP, um impressionante número de casos que foram relatados à comissão e não o foram às autoridade clericais.

Já sobre a possibilidade aventada pela socióloga Ana Nunes de Almeida, membro da Comissão de Investigação, de que o tema dos abusos sexuais seja abordado na Jornada Mundial da Juventude, D. José Ornelas defendeu que este tema está sempre “presente” quando se trata de evento que envolva jovens.

Questionado sobre o assunto ser lesivo para a imagem da Igreja Católica ao ser abordado em público, o presidente do CEP foi peremptório: “Não vivo para a imagem."

“Para nós não foi fácil passar por este caminho, mas é preciso. É fundamental que a verdade seja verdade e que se saiba que esta Igreja está trabalhando para debulhar estes erros calamitosos”.

Sobre as declarações da Comissão Independente de que havia um desfasamento e alheamento da hirarquia da Igreja em relação aos relatos de abusos, até como forma de autoproteção, D. José Ornelas declarou que não se sentia "alheado", "mas sinto que algumas coisas não me chegaram e deviam ter chegado”.

Já sobre a possibilidade de ser criada uma nova Comissão para continuar a acompanhar este tema, D. José Ornelas garantiu que já estão em funcionamento as Comissões Diocesanas.

“Esta Comissão termina agora a sua função, mas não se esgota aqui. Isto tem de ter sequência”, disse.

O presidente da CEP aponta para um trabalho “em parceria” com outras instituições do país. “Este é um projeto que não termina na Igreja”, afirmou, destacando o trabalho dos especialistas, sistema judicial e comunicação social.

Em relação aos custos com o trabalho da Comissão, Ornelas apontou para os 200 mil euros, número que, disse, ainda pode baixar ou subir.

Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt