Os diretores demissionários do JN, TSF, O Jogo e Dinheiro Vivo consideraram hoje, no parlamento, que tem existido uma desvalorização das marcas por parte da administração da Global Media e defenderam a importância dos trabalhadores do grupo.
Numa audição na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, a requerimento do PCP, os diretores de informação demissionários do Jornal de Notícias (JN), Inês Cardoso, da TSF, Rosália Amorim, d" O Jogo, Vítor Santos, e do Dinheiro Vivo, Bruno Contreiras Mateus, defenderam a importância dos títulos mais afetadas pela crise no Global Media Group (GMG).
"Há um discurso de ataque direto e desvalorização do título que não consigo compreender", afirmou Inês Cardoso, em alusão às declarações do presidente da comissão executiva do GMG, José Paulo Fafe.
Segundo a diretora do JN, o CEO indicou que o título com sede no Porto vende cerca de 12 mil jornais em banca, ascendendo a cerca de 14 mil com as assinaturas, mas os dados do terceiro trimestre apontam para uma circulação paga impressa de 19.327.
Inês Cardoso sublinhou que "há decisões de gestão que têm impacto direto", que no caso da comunicação social é um "efeito de bola de neve, em que há corte de custos que tem como consequência imediata uma quebra de receita".
"O JN tem resultados positivos consistentes ao longo dos anos", disse, indicando que até ao fim de outubro o título tinha um EBITA (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) positivo de 1,97 milhões de euros.
Já a diretora demissionária da TSF, Rosália Amorim, também defendeu que tem existido uma "desvalorização do GMG, incluindo da TSF", considerando que houve situações críticas que levaram à denúncia de contratos comerciais.
Rosália Amorim adiantou ainda a administração "não quis adiantar qualquer data" sobre o pagamento dos salários em atraso dos trabalhadores, nem respondeu às questões sobre se seria acionado o fundo de garantia salarial.
A responsável da rádio do GMG garantiu ainda que a reestruturação dos títulos "não foi comunicada no seu todo", mas sim "marca a marca" e que as informações que conhece sobre o World Opportunity Fund são as publicadas na comunicação social.
O diretor demissionário d" O Jogo, Vítor Santos, destacou o papel dos trabalhadores dos títulos, sublinhando que o jornal desportivo foi líder "durante grande parte do ano que terminou [2023] no digital".
"Qualquer baixa no jornal O Jogo é um problema. São menos de 50 pessoas que fazem o nosso jornal", disse, acrescentando que não se pode admitir a redação "estar a trabalhar por sistema dez horas por dia e perder mais um trabalhador".
"Estamos num processo que pode não levar ao despedimento coletivo, mas as pessoas estão a ser convidadas a rescindir amigavelmente", referiu.
O responsável d" O Jogo defendeu ainda que a principal preocupação no meio da crise que o grupo atravessa devem ser os trabalhadores.
Por sua vez, o diretor do Dinheiro Vivo considerou que as responsabilidades dos acionistas devem ser colocadas neste momento, defendendo que as "lideranças são responsáveis por empatia e as administrações por gestão humanizada".
Para Bruno Contreiras Mateus, "o arquivo digital hoje deveria ser uma preocupação deste grupo, mas também do poder político", para garantir que "há uma forma de que o arquivo não é perdido".
No passado dia 06 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar "a mais do que previsível falência do grupo".
Entretanto, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) garantiu que não vai hesitar em tomar novas diligências se subsistirem dúvidas sobre a titularidade do capital do fundo que detém a Global Media, a quem solicitou informações adicionais.
O programa de rescisões no GMG, que detém a TSF, Diário de Notícias (DN) e Jornal de Notícias (JN), entre outros, foi prolongado até 10 de janeiro.
Acionistas e comissão executiva têm trocado acusações e ameaças, enquanto há trabalhadores que estão sem receber o salário de dezembro e o subsídio de Natal e os prestadores de serviços sem os pagamentos que lhes são devidos.
Jornalistas de todo o país e sociedade civil já doaram mais de 15.600 euros e ajudaram 44 dos trabalhadores do GMG, segundo uma nota divulgada na terça-feira pelos representantes dos trabalhadores Ana Luísa Magalhães, Augusto Correia, Ivete Carneiro e Rita Salcedas.