A Mercearia do Bolhão vai fechar portas até ao final de abril por falta de clientes. Vai ser substituída por uma loja da cadeia espanhola Ale-Hop.
Localizada na rua Formosa, a mercearia mais antiga do Porto, com 144 anos de história, é um dos pontos de atração turística da cidade. À Renascença, o proprietário da loja, Alberto Rodrigues, lamenta o encerramento, mas admite que a falta de clientes se tornou insustentável.
“Há pouco bom cliente com poderio e paladar. Muitos deles já nem conhecem o bom produto que estas casas têm, e como tal, vão ao ‘baratuxo’. Uns não têm poderio e outros já nem têm sabor na boca. Alguns, realmente, ainda são aqueles antigos que gostavam que a minha casa e outras continuassem, mas não chega”, afirma o proprietário.
Alberto Rodrigues garante que não é caso único e que há outros comerciantes na baixa do Porto a ponderar fechar por ausência de fregueses, embora não revele nomes.
Os clientes habituais da Mercearia do Bolhão admitem tristeza, mas entendem os motivos do fecho.
“É uma desilusão e uma grande tristeza, porque, realmente estas casas fazem parte do carisma da cidade, e é uma pena quando se fecha uma casa destas porque apaga um pouco a identidade da cidade. São rostos que desaparecem”, confessa o cliente Rui Santos.
“Esta mercearia era um mundo, e agora está sempre vazia. Não tem ninguém. É muito triste. Agora, de repente, casas com muitos anos a fecharem todas... é só bugiganga que para aqui vem”, consolida, por sua vez, a freguesa Maria Isabel.
Também os proprietários de outros pequenos comércios estão revoltados por verem “mais uma casa fechar”, e preocupados com o futuro dos negócios locais. António Reis tem 91 anos, é proprietário da Pérola do Bolhão e confessa que apenas resta “acarinhar os turistas”, porque são eles que vão mantendo o comércio típico vivo.
“Não sabemos o que vai acontecer. A despesa é cada vez maior e as grandes superfícies são uma grande concorrência. As pessoas preferem comprar tudo num só lado. Não querem andar para trás e para a frente. Nós fazemos por agradar o cliente na qualidade e na frescura... Nos supermercados grandes nem sempre é assim”, conta à Renascença.
Maria da Conceição é dona de uma tabacaria ao lado da Mercearia do Bolhão há quase 43 anos. Explica que estão muitas pessoas a fechar portas porque “não têm dinheiro para si mesmas, quanto mais para empregados” e, com as “rendas altas” e a “falta de clientes” é “muito difícil” sustentar um negócio. A proprietária culpa ainda o presidente da Câmara Municipal do Porto pelo “modernismo da Baixa”.
“O presidente da Câmara, Rui Moreira, foi o que pôs a Baixa do Porto horrível. Fizeram obras aqui em frente, na rua Alexandre Braga, que tinha duas paragens de autocarros... o que trazia muita gente. Até isso eles mandaram abaixo e levantaram um caminho pedonal. Foi uma asneira, muitas pessoas de idade até deixaram de vir”, afirma.
A Mercearia do Bolhão, mercearia mais antiga da cidade, encerra atividade a 30 de abril. O proprietário não sabe quando abrirá a nova loja.