A realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, em agosto, terá um custo de pelo menos 161 milhões de euros, segundo as estimativas apresentadas pela Igreja Católica, pelo Governo e pelos municípios de Lisboa e Loures.
Aquele que é considerado o maior acontecimento da Igreja Católica vai decorrer entre os dias 1 e 6 de agosto em Lisboa por escolha do Papa Francisco, que participa no encontro. As principais cerimónias vão ter lugar no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.
As previsões de investimento do executivo nacional socialista e das duas autarquias foram conhecidas já em 2022, tendo o memorando de entendimento com as respetivas responsabilidades ficado definido no final do ano.
Ainda em julho, a Câmara de Lisboa anunciou em comunicado a sua disponibilidade para investir "até 35 milhões de euros na exigente criação de condições para os diferentes eventos" integrados na JMJ, um valor confirmado esta semana pelo presidente da autarquia, Carlos Moedas (PSD).
Em outubro, o Conselho de Ministros aprovou um reforço do seu investimento que, segundo fonte do gabinete da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, elevou para 36,5 milhões de euros os gastos do Governo, sem incluir custos com segurança, mobilidade, saúde, entre outras, uma vez que as inscrições para o evento não estavam ainda abertas e o número final depende do total de participantes.
No mesmo mês, o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão (PS), estimou o investimento concelhio entre 9 e 10 milhões de euros e, na quinta-feira, o autarca manteve a previsão de um orçamento de cerca de uma dezena de milhões de euros, que contempla sobretudo a modelação do terreno, a construção de uma ponte ciclopedonal (Loures-Lisboa), o plano de drenagem e a execução de passagens hidráulicas e acessos e mobilidade.
Retorno para o país vai ser estudado
Os custos da JMJ têm estado em destaque esta semana depois de ser conhecido que a construção do altar-palco do espaço do Parque Tejo (com nove metros de altura e capacidade para 2.000 pessoas), a cargo do município da capital, foi adjudicada à Mota-Engil por 4,24 milhões de euros (mais IVA), somando-se ainda a esse valor 1,06 milhões de euros para as fundações indiretas da cobertura.
Na sequência da polémica, o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 e coordenador geral do Comité Organizador Local, Américo Aguiar (bispo auxiliar de Lisboa), adiantou na quinta-feira que o orçamento da Igreja ainda não está fechado e será divulgado nos próximos dias, tendo já um valor provisório superior a 80 milhões de euros.
O memorando de entendimento prevê que a Igreja assuma a responsabilidade e custos de tudo o que diga respeito ao acolhimento dos peregrinos, explicou o coordenador do evento, referindo que, "no fim, assumirá os prejuízos", se houver. Eventuais lucros serão entregues às autarquias de Lisboa e Loures para projetos relacionados com a juventude.
De acordo com o Portal Base da contratação pública, foram já adjudicadas pelo menos duas dezenas de empreitadas e/ou aquisições de serviços.
As características do evento e o seu retorno a nível económico, as especificidades do terreno do Parque Tejo e a sua requalificação e futura utilização (inclusive do palco) têm sido apontados pelas entidades envolvidas para justificar o investimento.
O caso de Espanha tem sido apontado como exemplo, já que teve um retorno de 350 milhões.
De acordo com Américo Aguiar, foi formalizado na quarta-feira um protocolo com o Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa para contabilizar esse retorno em Portugal.
O bispo auxiliar declarou que o valor do altar-palco "magoa todos", admitindo eventuais correções se necessário e o Presidente da República afirmou que desconhecia este custo e considerou positivo o presidente da Fundação JMJ mostrar-se "sensível à compatibilização de dois objetivos: um, que a Jornada seja uma projeção de Portugal no mundo; segundo, que tenha em linha de conta as circunstâncias económicas e sociais vividas neste momento".
Por seu turno, o coordenador do grupo de projeto para a JMJ (nomeado pelo Governo), o ex-vereador de Lisboa José Sá Fernandes, afirmou-se surpreendido com o valor do palco, garantindo que existiam soluções "mais baratas", e manifestou dúvidas quanto à viabilidade da reutilização futura da estrutura para outros eventos, devido à dimensão.
A estas declarações seguiram-se críticas de Carlos Moedas: "Penso que esse senhor não está informado e está muito alheado da realidade. Não conheço esse projeto, nem vou entrar em polémicas, mas penso que é muito triste quando alguém responsável vem apresentar números errados.".
O autarca assumiu todas as responsabilidades pela organização da JMJ, declarando que dá "o corpo às balas" no planeamento de "um evento único para Lisboa", mas mostrou-se disponível para rever projetos e custos e afirmou que fará "a vontade do Presidente da República e da Igreja".
O município de Lisboa é ainda responsável, entre outros, pela criação de algumas infraestruturas básicas, nomeadamente água, eletricidade e rede móvel, bem como de uma ponte pedonal (EMEL), e por assumir metade do custo da colocação de uma ponte militar, que ligará as margens do Trancão, com o concelho de Loures.
A câmara vai também construir um palco no Parque Eduardo VII e outro no Terreiro do Paço, no âmbito das cerimónias, mas ambas as estruturas são de menor dimensão do que a do Parque Tejo.
Estão já pré-inscritos mais de 420 mil peregrinos na JMJ, mas são esperadas na capital cerca de 1,5 milhões de pessoas.