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Apesar de admitir a participação das farmácias na vacinação contra a Covid-19, o coordenador da task force responsável pela operação, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, sublinha que isso acontecerá só “em último caso” e sugere que os farmacêuticos podem colaborar nos centros de vacinação em massa, preparando vacinas e libertando os enfermeiros dessa tarefa.
Já tem sido dito que os farmacêuticos podem ser parceiros neste plano. Mas como? Com vacinação nas farmácias?
Em último caso, se precisarmos, teremos que encontrar a forma de poder vacinar nas farmácias. Será em último caso, se não conseguirmos dar resposta, porque as farmácias estão distribuídas pelo território nacional e ali já se administram injetáveis. É mais fácil do que estar a inventar uma nova resposta.
Há muitas pessoas a questionar esta hipótese, porque as orientações da DGS obrigam à presença de um médico para uma eventual emergência.
As orientações da DGS estão sempre em evolução. Quem vai normalizar isso é a DGS, já pedi para começar a ser feito esse trabalho. [Além disso], os farmacêuticos podem ser úteis, por exemplo, na preparação de vacinas, em vez de se estar a usar enfermeiros nessa preparação.
Estão a ponderar recorrer a voluntários?
Voluntários para ajudarem e orientarem as pessoas, sim, eventualmente bombeiros, funcionários das autarquias. Mas é preciso considerar que são sete dias por semana durante quatro a cinco meses e isto não é com voluntariadozinho [que se faz], é com profissionalismo a sério.
Tem sido fácil a organização com as câmaras municipais para os centros de vacinação?
Há boa vontade das autarquias. Às vezes há ideias mais para a direita, mais para a esquerda, não em sentido político... É claro que as normalizamos para não aparecerem ideias muito selvagens, mas também há alguma flexibilidade para os autarcas se poderem adaptar em função das instalações que têm e das características da população.
Considera possível a hipótese de vacinação em modelo drive thru (sem sair do carro)?
O único problema do drive thru é que a norma da DGS exige que as pessoas tenham um tempo de vigilância. Mas, se demonstrarem que conseguem montar esse esquema de vigilância, não tenho nenhum constrangimento doutrinário [em relação a isso].
Acha que tem havido demasiado voluntarismo das autarquias?
O voluntarismo é positivo para o processo. Se estão a contratar profissionais, só tenho que agradecer esse esforço. Todo o voluntarismo é positivo desde que minimamente enquadrado. Se não, cria um problema de organização de tal forma esdrúxulo que paralisa o sistema.
Têm-se sucedido ajuntamentos de pessoas à espera para serem vacinadas. Porquê?
Muitas vezes há erros informáticos, outras vezes são erros de transcrição de dados, outras vezes são erros das pessoas, que são ansiosas. Nesta população idosa, se se diz para aparecerem às 11, às 9 estão lá… Mas, num processo desta dimensão, a percentagem de erros tem sido muito pequena.
Há muitas recusas?
Não se consegue identificar exatamente esse número. Não se percebe muitas vezes se foi por que não recebeu SMS, ou porque não conseguiu interpretar o SMS, ou se não quis ir. A percentagem das pessoas que dizem não é muito pequena, entre 1 a 2%. Na realidade, depois aparecem menos pessoas. Por exemplo, [com os professores e funcionários das escolas] começamos com 96 mil e reduzimos para 71 mil, ou porque alguns não tinham dados corretos, ou porque já tinha sido infetados ou porque estavam grávidas.
Em relação aos infetados, vão ou não ser vacinados já, como reclama a Ordem dos Médicos?
Isso é uma decisão da DGS. Presumo que está pendente de duas coisas. Qual é o tempo em que a pessoa tem proteção, está imunizada? Há quem diga que são oito ou nove meses, há quem diga que são quatro meses, não há nenhum estudo muito claro. Por outro lado, enquanto há falta de vacinas, não faria muito sentido estar a dar uma vacina a pessoas que já têm alguma proteção. Quando chegarem em número suficiente, julgo que vai acabar essa restrição e receberão pelo menos uma dose.
Isso pode acontecer já na segunda fase com os profissionais de saúde?
Sim. Com a chegada dos 9 milhões de doses [no segundo trimestre], não há necessidade de deixar esse grupo para o fim.
No Verão e no Outono passados, coordenou uma equipa das Forças Armadas que ajudou na reorganização dos hospitais de Lisboa.
Era um grupo essencialmente virado para a matemática, a estatística e o planeamento. Fizemos previsões e também criamos uma cultura de união entre os hospitais, porque cada um trabalhava da sua forma. Temos que nos lembrar de uma coisa: nós não colapsamos, houve países que colapsaram, houve idosos abandonados.
Tem dito que isto é uma guerra. Não está a dramatizar?
Na guerra de África morreu menos gente em três teatros, durante 13 anos, do que morreu nesta pandemia. Isto é uma guerra, não são tanques, carros de combate, navios, não são pessoas a disparar sobre nós, é um vírus a disparar sobre nós. Mas um combate não é dar tiros, é uma mentalidade, e num combate há perdas. A vitória é conseguirmos organizar-nos para salvar o máximo de pessoas.