Quatro instrutores dos Comandos foram acusados de abuso de autoridade por ofensas à integridade física, à semelhança do que aconteceu com os 19 militares do Curso 127 que estão a ser julgados desde 2018.
De acordo com o jornal “Público”, neste novo processo, os militares estão acusados de 14 crimes de abusos de autoridade por ofensas à integridade física, previstos no Código de Justiça Militar, um deles em coautoria envolvendo três instrutores numa mesma agressão.
No despacho, a procuradora do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Josefina Escolástica Fernandes concluiu que "houve dolo nas agressões a sete instruendos por parte dos seus formadores e superiores hierárquicos desta tropa especial".
A magistrada conclui ainda no despacho que todos "quiseram molestar fisicamente os ofendidos bem sabendo que o seu comportamento era de molde a causar sofrimento extremo e sequelas irreversíveis e incapacitadoras do normal uso do corpo".
Os quatro instrutores acusados "atuaram com vontade de satisfazer instintos sádicos querendo fazer sofrer as suas vítimas", referiu a procuradora.
De acordo com o jornal, a procuradora da 10.ª secção do DIAP de Lisboa é assim a terceira magistrada a considerar que instrutores, embora de cursos distintos, "sabiam que as suas condutas podiam provocar as lesões que os instruendos sofreram".
Neste Curso (123) são acusados dois sargentos e dois cabos.
Na fase de inquérito que culminou com a acusação deduzida este mês estão vários testemunhos, entre os quais um de um formando do curso de Comandos que relatou ao Ministério Público (MP) que um instrutor "colocou-lhe uma presilha à volta do pescoço fazendo força física, dificultando a respiração do ofendido que acabou por desmaiar".
Um dos dois sargentos acusados no passado dia 9 de abril é um dos 19 militares que já estão a ser julgados desde setembro de 2018 por crimes no Curso 127.
As alegações finais do julgamento dos militares acusados de crimes ligados à morte de dois recrutas dos Comandos realizam-se a 7, 13 e 17 de maio, após o Ministério Público pedir alargamento de prazo para preparar as alegações.
O processo incide sobre os acontecimentos ocorridos durante a primeira prova do 127.º curso de Comandos em que morreram os recrutas Dylan da Silva e Hugo Abreu, tendo o MP, no final da investigação, acusado 19 militares, por cerca de 500 crimes relacionados com os atos alegadamente praticados na instrução dos recrutas.
Oito oficiais, oito sargentos e três praças, todos militares do Exército do Regimento de Comandos, a maioria instrutores, estão acusados de abuso de autoridade por ofensa à integridade física.
[notícia corrigida - alegações finais realizam-se a a 7, 13 e 17 de maio]