A greve de professores está a deixar muitos pais de crianças com necessidades educativas especiais à beira de um ataque de nervos. O Movimento Cidadão Diferente pede estabilidade ao ministro da Educação, João Costa.
Ficar dentro da carrinha escolar à espera para saber se o professor vai dar aulas tem sido a nova rotina de muitos alunos.
Desde 9 de dezembro, quando começou a greve de professores convocada pelo STOP - Sindicato de Todos os Profissionais da Educação, que está instalada a incerteza nas escolas, com reflexos nas aprendizagens dos alunos e na dinâmica familiar, especialmente das famílias que com crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE).
O Movimento Cidadão Diferente escreveu uma carta aberta ao ministro da Educação para “denunciar a forma como as escolas estão a tratar os alunos com NEE durante este período de greves consecutivas”.
Miguel Azevedo, o presidente do Movimento, fala em “centenas de alunos e famílias a serem tratados como carne para canhão de norte a sul do país”.
À Renascença, este responsável denuncia que muitos alunos ficam no transporte escolar “entre as 8h30 e as 10h00 à espera para saberem se vão ter aulas ou não”.
Miguel Azevedo explica que ficam apenas com o motorista, “sem qualquer tipo de acompanhamento especializado que os possa tranquilizar”.
Pais ameaçados com despedimento
O presidente do Movimento Cidadão Diferente diz que, face à incerteza que se vive nas escolas, muitos pais acabam por chegar atrasados ou até faltar ao trabalho.
À Renascença, Miguel Azevedo conta que quando os pais levam os filhos à escola, por volta das 8h30, se o professor ainda não tiver chegado, ficam à espera para saber se o docente só faz greve ao primeiro tempo da manhã. A confirmar-se, a criança entra na escola às 10h00 e os pais chegam atrasados ao trabalho, conta este responsável.
Pior, é quando o professor titular faz greve o dia inteiro, diz Miguel Azevedo, acrescentando que, nesse caso, os pais têm de ficar com as crianças.
O presidente do Movimento Cidadão Diferente revela à Renascença que “há já tentativas de despedimento de pessoas”.
Na carta aberta, dirigida ao ministro da Educação, secretária de Estado da Inclusão e deputados da Comissão de Educação e Ciência, são relatados dois casos.
Por um lado, uma mãe de Vila Nova de Gaia, que diz que “os meninos precisam de estabilidade nas suas rotinas, não podemos, pura e simplesmente, deixar os nossos filhos de manhã (7h30 até 8h45) nas CAF e depois ligam-nos às 10h00 para os ir buscar, ou esperar com eles ao portão da escola até às 9h00 para ver se o professor chega, imaginam o sofrimento das crianças que estão sujeitas a esta situação? Pois muitas delas são muito sensíveis a grandes ajuntamentos/confusões, barulhos, etc.”
“Ou então o professor faz greve ao primeiro tempo, temos de sair do emprego, ir buscar os meninos, ir para casa, ligar para a escola perto das 10h00 para saber se o professor regressa, e voltar a levar os meninos à escola. No entanto ficam sem almoço pois este é marcado diariamente até as 9h30, ou seja, temos de voltar a ir buscá-los para almoçar", sublinha esta mãe de Gaia,
Outra encarregada de educação de Braga, conta que na escola do seu filho e as outras crianças “ficam dentro do taxi/ambulância (transporte escolar) até a professora titular entrar na escola e dê aulas”.
“Se a professora titular fizer greve, temos que nos deslocar à escola para ficar com as crianças até às 10h00, hora em que começam as aulas", afirma.
O Movimento Cidadão Diferente admite que estas greves têm impacto em todos os alunos, mas destaca que no caso dos alunos com NEE “agrava-se o problema, pois eles não sabem o que se passa e ficarem trancados num carro à espera, é um ato desumano”. Este Movimento pede, por isso, aos governantes que tomem “ações rápidas que corrijam urgentemente esta situação”.