Portugueses têm grande vontade de viajar mas o orçamento é curto
03-08-2022 - 19:59
 • Ana Carrilho

Estudo mundial mostra que os portugueses têm grande vontade de descobrir o mundo, mas a crise financeira pode adiar a concretização dos sonhos.

Mais de metade dos portugueses defende que viajar é um interesse ou uma necessidade pessoal. Um valor acima da média global, avança um estudo internacional.

Avaliar o comportamento das pessoas em relação às viagens e turismo depois de dois anos de pandemia: foi o objetivo do estudo encomendado pela Travel Lifestyle Network, uma rede mundial de agências de comunicação na área do turismo e lifestyle, em que se inclui a portuguesa Message in a Botlle.

O inquérito refere-se ao 1º trimestre deste ano e chegou a quase 180 mil pessoas, de vários continentes e 28 países/destinos considerados relevantes. Por exemplo, Estados Unidos, Canadá, China, Coreia do Sul, India, Brasil, Israel, Austrália, África do Sul, ou França, Alemanha, Itália, Espanha ou Portugal.

“Portugal raramente é contemplado neste tipo de inquéritos e por isso havia uma grande curiosidade sobre o comportamento dos portugueses. Além disso, apesar de não sermos um mercado emissor relevante, somos um destino importante”, justifica Ruben Obadia, CEO da agência portuguesa.

Eu gosto de explorar o mundo

O desejo de viajar dos portugueses está bem acima da média global e isso revelou-se também na compra de viagens, nomeadamente internacionais, ultrapassando outros mercados emissores com poder de compra significativamente mais elevado.

Para 61% dos 2.354 portugueses participantes no estudo, viajar é um interesse/necessidade pessoal. “Um valor muito acima dos 46% da média global, o que não pode ser desligado da frase ‘eu gosto de explorar o mundo’, com que mais de metade se identifica”.

Para Ruben Obadia, a explicação para esta vontade “de sair do país” pode estar no cansaço provocado por dois anos de pandemia e em que houve um grande crescimento do turismo interno. Mas com o alívio das restrições- e as poupanças forçadas feitas nesse período – há vontade de descobrir outras regiões do mundo. “É uma resposta fruto da conjuntura”.

A relação custo/benefício é o fator que mais pesa na decisão de viajar para 54% dos portugueses, mais do dobro da média global (26%). Segue-se a meteorologia/época do ano e a experiência cultural, o que na opinião de Ruben Obadia, revela um mercado de consumo de viagens maduro. Conseguir uma experiência relaxante ou uma experiência única na vida aparecem à frente da procura de boas infraestruturas para famílias e crianças ou poder visitar família e amigos.

Crise financeira vai travar as viagens, mas não a vontade de viajar

O inquérito foi realizado tendo como referência os primeiros três meses do ano. Entretanto começou uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a inflação disparou, a crise financeira está a crescer e as pessoas estão a perder poder de compra, a nível mundial mas sobretudo na Europa.

Com este novo cenário Ruben Obadia não tem dúvidas que se fossem questionadas agora, as pessoas seriam mais cautelosas. “A vontade de viajar não se altera, mas as condições para que as viagens se concretizem, para muitas pessoas, deixam de existir. Canalizam as poupanças que lhes sobram (se sobraram) para colmatar perdas e responder a necessidades essenciais; as viagens e o turismo deixam de ser uma prioridade”.


O CEO da Message ina Bottle antevê, por isso, um período de retração. “O que aí vem não vai ser bonito e o turismo também vai sofrer o impacto desta crise que, ainda assim, não será, com certeza, tão grande como a que se viveu com a pandemia de COVID-19”.

No entanto, lembra que este é um sector que sempre se soube reinventar e adaptar aos tempos e às necessidades. “Obviamente, o turismo vai encontrar o seu caminho, mas tem que repensar bem o tipo de produtos e ver os que são mais adequados aos tempos que se aproximam. Porque as pessoas, pelo menos aqui em Portugal e não só, vão apertar o cinto”.

Aliás, o inquérito da Travel Lifestyle Network já revela que, para as viagens de lazer, os turistas procuram cada vez mais as companhias aéreas low-cost. Ainda assim, apesar de todos os problemas e polémicas dos últimos tempos, os portugueses continuam a preferir a TAP. Logo a seguir surgem a Ryanair e a Easyjet.