O arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, escreveu à comunidade paroquial do Divino Salvador de Joane, no concelho de Famalicão, após a denúncia de casos de abusos sexuais por cristãos daquela paróquia, manifestando “profunda tristeza e imensa dor”.
“Foi com profunda tristeza e imensa dor que recebi a notícia de que alguns membros da comunidade estão a sofrer e que o seu sofrimento chegou aos meios de comunicação social, através da denúncia de abusos cometidos durante a celebração do Sacramento da Reconciliação, escreve o prelado.
“Às vítimas e a toda a comunidade paroquial, que se sente provada na fé e escandalizada, desejo manifestar o meu carinho e a minha proximidade e pedir humildemente perdão”, acrescenta.
Reconhece que, neste caso, “a Igreja falhou no seu dever de proteger os mais frágeis e vulneráveis”, manifestando o desejo de “criar as condições para que todas as vítimas possam ser acolhidas, escutadas e acompanhadas”.
Em comunicado, emitido no passado sábado, a arquidiocese bracarense deu conta, que impôs “medidas disciplinares” ao cónego Manuel Fernando Sousa e Silva, após acusações de abusos contra o sacerdote em Joane.
No domingo D. José Cordeiro presidiu à celebração da eucaristia em Joane expressando à comunidade paroquial a mais profunda gratidão pelo modo como continua a participar na vida da Paróquia, apesar de tudo o que aconteceu.
Passos dados
Na carta que dirigiu aos cristãos de Joane, o arcebispo-primaz destaca a “forte exposição mediática” a que a comunidade tem sido exposta, sugerindo que “esta experiência pode contribuir para o aprofundamento de um processo de purificação”.
Num exercício de transparência, D. José Cordeiro diz que, “a 21 de novembro de 2019, chegou à Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAV) uma denúncia por parte de uma vítima, relatando ter sofrido abuso sexual por parte do referido sacerdote. Esta vítima mencionou a existência de outras vítimas. Dentro dos limites das suas competências, a Comissão diligenciou no sentido de identificar estas e outras possíveis vítimas, mas sem sucesso”.
“Dois anos mais tarde, chegou à Comissão mais uma denúncia. Ambas as vítimas foram acolhidas e acompanhadas pela CPMAV”, acrescenta.
O arcebispo de Braga informa ainda que “em sintonia com o Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé), em julho de 2022 foram impostas medidas disciplinares ao sacerdote em causa: ‘a necessidade de se abster de exercer publicamente o seu ministério sacerdotal e, de modo particular, a celebração pública dos Sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, devendo recolher-se num clima de oração, reflexão e penitência’.
Acolhimento e apoio às vítimas
“Reconheço que não conseguimos ser mais céleres no tratamento das denúncias e mais eficazes no acompanhamento das vítimas, o que lamento profundamente. No entanto, estamos ainda a caminho e quero dizer-vos que darei todos os passos necessários no sentido de promover um processo de cura e reconciliação”, escreve o arcebispo primaz.
“Neste sentido, já pedi à Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga a criação de um Serviço de Escuta destinado a todos quantos desejem partilhar as suas experiências. Este serviço estará disponível na Paróquia de Joane de forma presencial, sendo ainda possível recorrer ao mesmo por via telefónica ou por correio eletrónico”, informa.
“Peço veementemente a todos os que possam ter conhecimento de situações de abuso que façam chegar o seu testemunho à Comissão (comissao.menores@arquidiocese-braga.pt ou 913 596 668). Sei que é doloroso recordar e partilhar experiências de abuso, mas este é um passo indispensável no processo de cura e apuramento da verdade”, acrescenta.
D. José Cordeiro fala num “momento difícil da vida da Igreja em Portugal”, confiando, no entanto, que “o processo de purificação que estamos a iniciar abrirá para a Igreja um novo futuro, marcado pelo reconhecimento humilde e transparente dos seus erros e pecados, pelo acolhimento das vítimas e pela criação de uma cultura de prevenção e cuidado”.
A finalizar a mensagem, o arcebispo de Braga expressa aos paroquianos de Joane “a mais profunda gratidão pelo modo como continuais a participar na vida da Paróquia, apesar de tudo o que aconteceu”.
“Não tenhamos vergonha de pertencer à Igreja. Conhecemos as imperfeições dos seus membros, mas amamo-la como mãe. Este é o tempo da fidelidade. Permaneçamos firmes na fé, abertos ao dom do Espírito, o único que pode curar todas as feridas e fazer novas todas as coisas”, exorta ainda o prelado.