Conheça o ADN. O partido que esteve quase a entrar no Parlamento
11-03-2024 - 05:31
 • Renascença

“ADN” é o segundo assunto mais pesquisado no Google e, só este domingo, somou mais de 100 mil pesquisas no motor de busca.

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Foi a surpresa da noite: o ADN conquistou o nono lugar nestas eleições, com mais de 100 mil votos. Tornou-se o partido que mais subiu, em proporção, com dez vezes mais votos do que nas legislativas anteriores, quando teve cerca de dez mil.

Mas não foi suficiente para conseguir ter, pelo menos, um candidato com assento parlamentar. Mesmo assim, o ADN chegou a quarto lugar em Bragança, Vila Real e Viseu, logo a seguir à AD, PS e Chega. Na Guarda, atingiu o quinto lugar e, em Braga, Castelo Branco, Portalegre e Viana do Castelo alcançou o oitavo lugar. No resto dos distritos, marcou a nona posição.

O ADN já estava em destaque antes da noite eleitoral depois de a Aliança Democrática (AD) ter alegado que vários eleitores se enganaram a votar. A coligação de Luís Montenegro apresentou queixa, na tarde deste domingo, à Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Em contrapartida, o ADN apresentou também queixa na CNE contra a AD, por uma alegada campanha para “denegrir o ADN” e “tentar cativar eleitores a irem votar na AD”. No entanto, não existem registos que comprovem as acusações.

Mesmo sem eleger deputados, o líder do partido, e cabeça de lista em Lisboa, Bruno Fialho, festejou o resultado: "Parabéns ao ADN, que foi o grande vencedor da noite", disse, desvalorizando os possíveis enganos, e frisando que AD e ADN são "partidos completamente diferentes".

Esta posição foi também marcada na rede social Instagram: "Parece-nos estranho que estejam a presumir que os portugueses sejam burros e que vão enganar-se no dia 10 de março."

Críticas à parte, a verdade é que não se sabe se este aumento se deve à alegada confusão de nomes no boletim ou se foram votos intencionais e conscientes.

Engano ou “voto esclarecido”?

Assumido como um partido de direita conservador, o ADN é o sucessor do antigo Partido Democrático Republicano (PDR), fundado em 2015 por António Marinho e Pinto. Nesse ano de estreia, alcançou o sétimo lugar, com 61 mil votos, mas depressa desceu, em 2019, para 16.º lugar com 11 mil votos.

Sem nunca conseguir eleger um deputado em mais de cinco anos de tentativas, Marinho e Pinto viu o seu partido perder cada vez mais força e passou a liderança em setembro de 2021. O antigo advogado, e atual presidente do partido, Bruno Fialho quis mudar a imagem do PDR, numa tentativa de chegar ao Parlamento, e alterou também o nome do partido para ADN.

Em Portugal, há concelhos com mais peso na seleção para os círculos eleitorais do que outros e, se o sistema eleitoral funcionasse tal como o ADN defende, este movimento teria pelo menos um lugar garantido. Mas há uma outra corrida que o partido ganhou: “ADN” é o segundo assunto mais pesquisado no Google, com mais de cem mil buscas só neste dia de eleições.

E, a partir das oito da noite, quando foram lançadas as contagens de votos, o partido apareceu na lista, fora da categoria "Outros".

Aveiro, Braga, Bragança, Coimbra, Guarda, Lisboa, Porto, Vila Real e Viseu são os distritos onde esta tendência de pesquisa se registou com maior frequência do que a pesquisa sobre “AD”.

Muitos eleitores (e curiosos) usaram o Google para pesquisar o partido para conhecer o seu representante e as propostas eleitorais — até o site oficial do partido ficou indisponível ao longo da noite por não estar preparado para tantas pesquisas. Além disso, "ADN" foi o terceiro tópico mais falado nas redes esta madrugada.

Mas recuemos à mesa de voto, e ao momento de desenhar uma cruz, já que uma recente análise sugere que os votos no partido podem não ser, de facto, completamente esclarecidos.

O economista e professor catedrático da Nova School of Bussiness and Economics Pedro Martins concluiu, na rede social X, que nos distritos em que o partido ADN aparece primeiro nas folhas de voto do que a AD, consegue ter "0.56% mais votos" em comparação com aqueles em que não aparece.

"Votem para acabar com esta escumalha”

O crescimento inesperado do partido nestas eleições acompanha as polémicas associadas aos valores e ao programa eleitoral do ADN, que se apresenta como “a única alternativa capaz de pôr termo ao sistema político-partidário caduco”.

O partido é conhecido por ser negacionista das mudanças climáticas — com o mote "Carbono é vida. Diz não à fraude climática" —, por ser opositor ao conteúdo LGBTIQ+ nas escolas até ao 12.º ano e por defender a inexistência de qualquer apoio do Sistema Nacional de Saúde (SNS) a quem decide fazer uma Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) e a quem faça cirurgias de mudança de sexo sem ser por motivos clínicos.

“Votem para acabar com esta escumalha!” – este é um pedido frequente do presidente Bruno Fialho na rede social Facebook. Para além da "luta contra a corrupção", a redução global dos impostos, a promoção do arrendamento, o reforço dos apoios às economias circulares, a punição da eutanásia e o combate à imigração ilegal são algumas das medidas que estão dentro do programa político da ADN.

A autodenominada “voz do povo ADN" foi categorizada, em 2023, como um movimento radical e de extrema-direita por um relatório americano de uma organização não-governamental. Na rede social Instagram, o partido assume-se como fiel apoiante de Jair Bolsonaro, antigo Presidente do Brasil.

Para os militantes, pertencer ao ADN é ser "uma verdadeira alternativa, sem qualquer preconceito ideológico, abraçando opções políticas e/ou ideológicas que forem as melhores para o país e para os portugueses", reiteram no site.