Um em cada três jovens entre os 13 e os 24 anos diz ter sido vítima de bullying online e um em cada cinco reconhece que faltou à escola por esse motivo. A conclusão está num estudo da UNICEF, realizado em 30 países.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância recolheu a informação através da plataforma gratuita de mensagens U-Report, onde os jovens prestam testemunho de forma anónima, e considera o fenómeno “preocupante”. Apela, por isso, à “ação urgente” na aplicação de “políticas para a proteção de crianças e jovens contra o 'cyberbullying' e o 'bullying'”.
À Renascença, Francisca Oliveira, diretora de comunicação da UNICEF em Portugal, reconhece que estes números são preocupantes e deixa um alerta na semana em que milhões de crianças regressam à escola: “melhorar a experiência educativa das crianças não significa protegê-las apenas offline. Implica também protegê-las online".
"O bullying já não se limita às paredes da escola. Acontece por Whatsapp, e-mail e nas redes sociais: Facebook, Instagram, Twitter”, destaca.
Francisca Oliveira revela ainda que este estudo não incluiu Portugal, mas dados anteriores indicam que o fenómeno é transversal. “Os números que temos dizem que 46% dos jovens portugueses entre os 13 e os 15 anos afirmam ter sofrido ou terem estado envolvidos em bullying, no ano anterior, na escola”.
Como combater este fenómeno?
A UNICEF Portugal fala de um problema global, que exige uma resposta concertada a envolver vários atores: pais, professores, comunidade educativa e Governo.
“A UNICEF apela a medidas urgentes em várias áreas. Desde logo, a implementação de políticas que protejam as crianças e os jovens da violência, o aumento das medidas de segurança nas escolas, o incentivo dos alunos e das comunidades em que se inserem a questionar a própria cultura de violência em que muitas vezes cresceram e melhorar, também, a recolha de dados sobre o comportamento online das crianças”, aponta.
Questionada como deve reagir uma família que deteta um fenómeno de ciberbullying, Francisca Oliveira diz que primeiro há que estar atento ao problema e falar abertamente sobre o assunto. Depois é preciso olhar com atenção para o comportamento dos filhos, que muitas vezes não verbalizam - ou seja, é preciso tentar intuir qual é o estado emocional da criança.
“É preciso que os pais se envolvam, participem nas reuniões de pais nas escolas, procurem saber mais sobre as regras e procedimentos. No caso de uma criança ir ter com os pais reportando um caso específico de violência, devem ouvi-la com atenção, não fazer nunca promessas que não possam cumprir, mostrar que acreditam naquilo que lhes está a ser contado e reportar imediatamente o caso”, sugere a diretora de comunicação.
Para o estudo da UNICEF foram questionados jovens da Albânia, Bangladesh, Belize, Bolívia, Brasil, Burkina Faso, Costa do Marfim, Equador, França, Gâmbia, Gana, Índia, Indonésia, Iraque, Jamaica, Kosovo, Libéria, Malaui, Malásia, Mali, Moldávia, Montenegro, Myanmar (antiga Birmânia), Nigéria, Roménia, Serra Leoa, Trindade e Tobago, Ucrânia, Vietname e Zimbabué.
Cerca de 32% consideram que “os governos devem ser responsáveis por acabar com o cyberbullying”, enquanto 31% disseram que a responsabilidade cabia aos jovens e 29% que competia às empresas de Internet.