Conferência Episcopal. "Não toleraremos abusos nem abusadores"
13-02-2023 - 16:10
 • João Carlos Malta

Bispos voltam a pedir desculpa a todas as vítimas. Reconhecem ainda que as vidas das vítimas foi atravessada pela perversidade onde não deveria estar.

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A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reage aos dados conhecidos, esta segunda-feira, sobre os abusos sexuais na Igreja como uma vontade de no futuro ter uma atitude de “tolerância zero”. "Não toleraremos abusos nem abusadores", disse D. José Ornelas.

Nesse sentido, está já marcada uma Assembleia Plenária Extraordinária para o próximo dia 3 de março, que será dedicada exclusivamente ao debate sobre este tema e às questões contidas no relatório agora divulgado.

Ornelas referiu-se aos dados agora conhecidos como “uma ferida aberta que nos dói e nos envergonha”.

O relatório publicado exprime, segundo a CEP, “uma dura e trágica realidade: houve, e há, vítimas de abuso sexual provocadas por clérigos e outros agentes pastorais, no âmbito da vida e das atividades da Igreja em Portugal”.

O estudo apresentado recolhe o testemunho de 512 vítimas diretas e aponta para outras prováveis, estimando-se cerca de 4815 vítimas de abusos sexuais de menores, desde 1950 até ao presente.

Disse também que este "estudo da Comissão Independente apresenta-nos um número muito maior do que aquele que soubemos apurar até hoje".

A Igreja reconhece que há “várias consequências destes crimes que podem ter estado na origem de dramas e sofrimentos incomensuráveis que marcaram vidas inteiras”.

A CEP pede “perdão a todas as vítimas”, sem distinções, tanto “às que deram corajosamente o seu testemunho, calado durante tantos anos”, como “às que ainda convivem com a sua dor no íntimo do coração, sem a partilharem com ninguém”.

Os bispos reconhecem ainda que as vidas das vítimas foi atravessada pela perversidade onde não deveria estar.

“O vosso testemunho é para nós um alerta e um pedido de ajuda a que não queremos nem podemos ficar surdos. Temos consciência de que nada pode reparar o sofrimento e a humilhação que foram provocados, a vós e às vossas famílias, mas estamos disponíveis para vos acolher e acompanhar na superação das feridas que vos foram causadas e na recuperação da vossa dignidade e do vosso futuro”, disse D. José Ornelas.

O mesmo responsável sublinha que os abusos de menores são crimes hediondos. "Quem os comete tem de assumir as consequências dos seus atos e as responsabilidades civis, criminais e morais daí decorrentes", defende.

Ornelas apela a que "reconheçam a verdade sem nada esconder, que se arrependam sinceramente, que peçam perdão a Deus e às vítimas, e que procurem uma mudança radical de vida com a ajuda de pessoas competentes, na certeza de que o caminho da justiça encontrará sempre lugar no coração bondoso de Deus".

A Igreja faz também "mea culpa" por "não termos sabido criar formas eficazes de escuta e de escrutínio interno, e por nem sempre termos gerido as situações de forma firme e guiada pela proteção prioritária dos menores".

No entanto, aponta para a mudança que está a acontecer e diz que isso se deve também, e muito, "aos Papas Bento XVI e Francisco, à ação dos meios de comunicação social, e à nova sensibilidade que cresce dentro da Igreja e da sociedade em geral".

D. José Ornelas espera que este caso não leve a que se esqueça quem na Igreja trata dos mais fracos e mais frágeis.

Por fim, o líder da CEP quis apontar para o futuro e afirmou que é necessário "que sejamos capazes de continuar a “dar voz ao silêncio” dos mais frágeis, contribuindo para uma cultura de transparência, não só na Igreja, mas em toda a sociedade, fazendo jus à identidade e missão da Igreja em favor da segurança e do bem das crianças, adolescentes e adultos vulneráveis".

Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt