“As vítimas são um problema de todas as guerras”, afirma o Presidente sírio, em entrevista ao jornal “El País”.
Bashar al-Assad garante sentir “tristeza pela morte de todos os civis inocentes” no conflito sírio, mas acrescenta que “a guerra é assim”. Considera que “as guerras são más, não há guerras boas, porque haverá sempre civis e inocentes a pagar o preço”.
Nesta entrevista, Bashar al-Assad diz que pretende, daqui a 10 anos, ser encarado como o homem que salvou a Síria, mas que isso não significa que nessa altura continue a ser presidente.
“Estou a falar da minha visão sobre esse período. A Síria estará bem e eu serei a pessoa que salvou o país. Essa é actualmente a minha tarefa e o meu dever (…). Não me interessa a minha presença no poder, para mim é o povo Sírio que quer quem está no poder, e então se assim for, estarei, senão, não estarei. Se não posso ajudar o meu país, devo ir-me embora” acrescentou al-Assad.
Sobre a trégua na Síria, anunciada a semana passada pela Rússia e Estados Unidos, o Presidente diz estar disponível para respeitar o cessar-fogo de imediato, ou melhor, “um cessar das operações”. É importante, mas não chega para o Presidente sírio: “É preciso impedir que os terroristas se aproveitem da suspensão das operações para melhorarem as suas posições, e é preciso também impedir a Turquia de enviar mais homens e armas ou dar qualquer tipo de apoio logístico aos terroristas”.
Na entrevista ao El País, al-Assad disse também que "há 80 países que apoiam os grupos terroristas na Síria" e admitiu que a ajuda russa (desde Setembro do ano passado) e iraniana foi fundamental para que o Exército sírio pudesse recuperar algumas posições ao auto-proclamado Estado Islâmico.
A guerra na Síria já dura há cinco anos e a ONU contabiliza pelo menos 260 mil mortos e cinco milhões de refugiados. Diz al-Assad na entrevista que "é uma das partes mais tristes do conflito sírio; ver as pessoas a deixarem o país por razões diferentes".
"Mas, como governantes, temos de saber o que fazer. Como? Há aqui duas questões. Primeiro, o terrorismo. Os terroristas não só ameaçam pessoas como lhes negam as necessidades básicas para viver. Em segundo lugar, o embargo à Síria implementado pelo Ocidente tem causado muitas dificuldades a quem vive cá, especialmente no que toca à saúde. Temos de lidar com estas questões para evitar que o conflito se arraste", defendeu.
Sobre o relatório da ONU que acusa o governo sírio de praticar tortura nas suas prisões, al-Assad afirma que os dados que o sustentam são baseados em "propaganda" recolhida pelo Qatar. "Esse é o problema com o Ocidente e a propaganda; utilizam informações não-confirmadas para acusar a Síria e para a culpar e agir contra ela."
Esta entrevista, publicada na íntegra este domingo, foi, segundo o “El País”, conduzida sob fortes medidas de segurança em Damasco.