Diogo Feio acha que o Chega não é um problema do CDS, que deve, no entanto, procurar dar respostas moderadas aos medos que levam os eleitores a votar no partido que agora ocupa o lugar mais à direita no Parlamento.
Ex-deputado e eurodeputado, presidente do Instituto Adelino Amaro da Costa, o centro de estudos e debates do CDS, Diogo Feio vai apoiar João Almeida no congresso do próximo fim-de-semana e espera que o seu partido não entre em aventuras.
Vai apoiar algum dos candidatos no Congresso do CDS?
É altura de todos expressarmos as nossas opiniões e vou apoiar o João almeida por um conjunto de motivos.
Que são?
O CDS tem muitos desafios nos próximos tempos, que necessitam de experiência para a sua resposta, que precisam de alguém que seja capaz de debater e conversar com o Governo e com Rui Rio, de alguém que seja capaz de fazer partido para as próximas eleições autárquicas que, na minha opinião, são essenciais quanto ao que será o futuro do CDS. E que tenha um discurso claro, sem incoerências e seja percetível por todos numa altura em que a forma como se comunica a política é essencial.
Fala em capacidade de sentar e falar com o Governo. Isso implica uma mudança de estratégia em relação àquilo que têm sido os últimos tempos do CDS, em que Assunção Cristas teve sempre um discurso de não fazer nada com PS ...
E, mas as circunstâncias políticas se alteraram-se. Curiosamente, o PS passou a ter mais votos, mas menos liberdade de intervenção, em que a maioria não é tão forte; com tempos que são relevantes, porque o próximo orçamento vai ser votado numa ocasião em que não pode haver dissolução da Assembleia da República, com eleições autárquicas a meio do caminho, acho que é mais do que razoável que o CDS, numa nova fase, a preparar um novo ciclo político, perceba que é relevante conversar com quem está no Governo. O CDS tem e terá um conjunto de propostas que poderão ser aprovadas …
Foi em várias ocasiões assim na liderança de Paulo Portas, quando o CDS tentava obter ganhos para nichos do seu eleitorado ...
Diria que a parte dos nichos é uma parte de estratégia, mas é relevante que o CDS tenha três ou quatro ideias muito claras em relação ao seu discurso e que sejam o centro do seu discurso. Em primeiro lugar, no plano social e no plano social saliento a saúde e a educação. Veja-se por exemplo como Boris Johnson, depois do Brexit, assume no sue discurso eleitoral estes dois campos como essenciais. É uma tendência que vai pela Europa fora e que, em Portugal, tem de ser assumida, até porque neste momento já não temos os limites da troika e o que se passa no nosso sistema nacional de saúde é uma vergonha nacional e o CDS tem de assumir a necessidade de dar a volta a isto como sua primeira prioridade. A segunda prioridade é um discurso virado essencialmente para as empresas como um fator que faz mais riqueza para o país e que sustenta um elevador social para todos.
Em terceiro lugar, o CDS tem de ser um partido aberto a resolver os medos das pessoas. Hoje as pessoas precisam de políticos que as tranquilizem com um discurso que seja direto em relação a um conjunto de medos que têm, que passam por não saberem o que é futuro do meio ambiente e das alterações climáticas, por não saberem como é a sua segurança no trabalho, por não saberem o que é a sua segurança nas ruas, passada por um conjunto de coisas para as quais o CDS tem de dar uma resposta de forma a que a resposta a esses problemas seja não uma resposta radical, mas de moderação.
Quando fala em resposta radical está a pensar no Chega?
O Chega é um partido que teve aproximadamente 60 mil votos nas eleições. Temos de lhe dar o peso relativo. O Chega é uma consequência de o nosso sistema político se ter virado excessivamente para a esquerda. Na altura em que o PS fez um acordo com o BE e o PCP possibilitou que aparecessem partidos da direita mais populista como o Chega e, neste momento, é a própria esquerda que acha que debilita o centro-direita com algumas questiúnculas que vai criando de forma artificial com o Chega de forma a que esse partido se vá afirmando.
Está a dizer que a esquerda está a beneficiar o Chega?
Estou a dizer que esquerda não vê com maus olhos beneficiar o Chega porque acha que isso vai debilitar outros partidos que podem ser alternativa no espaço do centro-direita.
Acha que não se deve dialogar com o Chega? Já, por diversas vezes, defendeu uma redefinição do espaço da direita, simpatiza com a ideia de uma grande coligação de direita ... Nessa direita o Chega não entra?
A atitude do CDS deve ser a de dar a resposta que aqueles eleitores que foram votar no Chega pretendem. As pessoas têm um conjunto de preocupações que não têm vindo a ser resolvidos pelos partidos tradicionais, não populistas e, portanto, viraram-se para um partido populista. Essas pessoas necessitam de resposta e de uma resposta moderada e o CDS está com a obrigação de lha dar. Em relação à questão de um potencial acordo com o PSD, numa lógica alternativa ao PS, tudo tem o seu tempo; este é o tempo em que o CDS deve centrar-se nas eleições autárquicas, na necessidade de formar partido, na necessidade de ter um bom resultado ...
As autárquicas não são, tradicionalmente, fáceis para o CDS...
Pois não são, mas o CDS tem seis câmaras, o Chega e a Iniciativa Liberal não têm nenhuma
Ainda não foram a eleições autárquicas
Não têm estrutura que possa ser apelativa em relação a essas eleições. O CDS tem de se centrar aí e estamos a falar de mandatos [de presidente do partido] de dois anos. As questões que virão depois dos dois anos na altura se verá. Neste momento, o que é relevante é o CDS, por um lado, demarcar-se naquelas que devem ser as suas ideias essenciais, ter uma estratégia de comunicação que perceba que hoje em dia se comunica com os eleitores desde logo através de redes sociais e de uma forma eficaz e que não se perca em questões que não são suas. O Chega não é uma questão para o CDS, a base ideológica do CDS não é uma questão, o CDS tem de falar sem ruído, de uma forma tranquila e muito direta pra o conjunto de eleitores que pretendem uma voz de direita moderada que possa resolver os seus problemas.
Mas nesses dois anos como deve ser a relação do CDS com o PSD?
Deve ser uma relação de normalidade. O CDS tem um conjunto de coligações autárquicas com o PSD que ao que sei estão a correr bastante bem. Não há motivos para grandes modificações. O PSD fará o seu caminho e o CDS fará o seu. Tem muitos desafios depois do resultado eleitoral que teve que foi mau, que deixou o partido com cinco deputados. Agora tem de ter força, ânimo e determinação e um discurso político muito claro e que seja evidente quanto à utilidade que o CDS tem dentro do sistema, porque isto foi algo que se perdeu um bocadinho.
Tendo em conta que há cinco candidatos num congresso eleitoral, acha que devem ser feitas alianças eleitorais já em pleno congresso?
Fundamentalmente quero um partido clarificado. Acho relevante que o partido clarifique a linha que quer seguir. Parece-me que há caminhos distintos entre si. E sobretudo vá pelo seguro, porque o partido não pode neste momento ter qualquer espécie de aventura por muito bondosa que pudesse ser. Vai ser necessário muita experiencia política para os grandes desafios que o CDS tem para os próximos dois anos e não estamos em posição de arriscar o que quer que seja.