O Papa Francisco exprimiu, este domingo, na despedida da Hungria, o desejo de que as universidades “sejam um centro de universalidade e liberdade” e “um fecundo estaleiro de humanismo”. No encontro com 30 investigadores e professores de renome internacional, na Faculdade de Informática e Ciências Biónicas, da Universidade Católica, Francisco sublinhou que “os grandes intelectuais são humildes” e considerou que “o mistério da vida desvenda-se a quem sabe penetrar nas pequenas coisas”.
No último ponto da agenda em Budapeste, antes de regressar a Roma, o Papa argentino afirmou que “a cultura representa verdadeiramente a salvaguarda do humano” e sublinhou que “quem [a] ama nunca sente ter chegado ao fim acomodando-se”. Em vez disso, tem “dentro de si uma saudável inquietação. Investiga, questiona, arrisca e explora”, disse. E acrescentou:
“Sabe sair das próprias certezas para se aventurar, humildemente, no mistério da vida, que se une com a inquietude, não com o hábito; que se abre às outras culturas e sente a necessidade de partilhar o saber.”
O discurso aos mundos da cultura e da universidade ficou também marcado por uma menção à história da Hungria, país que, nas palavras de Francisco, “viu uma sucessão de ideologias que se impunham como verdades, mas não davam liberdade”. “Ainda hoje o risco não desapareceu: penso na passagem do comunismo ao consumismo”, prosseguiu Francisco. “Acomunar ambos os «ismos» é uma falsa ideia de liberdade; a do comunismo era uma «liberdade» forçada, limitada de fora, decidida por outrem; a do consumismo é uma «liberdade» libertina, hedonista, nivelada sobre si mesma, que torna escravos do consumo e das coisas.”
“A cultura acompanha-nos no conhecimento de nós mesmos”
Depois de ouvir os testemunhos do professor Balázs Major, que falou sobre a colaboração da Universidade Católica do país com as instituições de ensino superior da Síria, e de ter escutado a estudante de doutoramento Dorottya Kocsis, que diz que Deus cria através de si, Francisco constatou que “a cultura acompanha-nos no conhecimento de nós mesmos”. Isso – adiantou o sucessor de Pedro – significa “conhecer os próprios limites, e consequentemente, conter a própria presunção de autossuficiência”.
“Faz-nos bem, porque é primariamente reconhecendo-nos como criaturas que nos tornamos criativos, mergulhando-nos no mundo em vez de o dominar”, disse, contrapondo o “pensamento tecnocrata” que “não admite limites”, ao “homem real” que é “feito também de fragilidades, e muitas vezes é precisamente aí que compreende ser dependente de Deus e conexo com os outros e com a criação”.
Uma realidade em que “os papéis da cultura e da universidade” resplandecem
No mesmo discurso, o Papa fez ainda “um exame” da realidade “em tons sombrios” para mostrar que é neste contexto “que melhor resplandecem os papéis da cultura e da universidade”. Alertou para a “vontade de colocar no centro de tudo, não a pessoa e as suas relações, mas o indivíduo centrado nas suas próprias necessidades”, e mencionou a “erosão dos laços comunitários”, em que “a solidão e o medo parecem transformar-se, de condições existenciais, em condições sociais”.
“Quantos indivíduos isolados – muita rede social, mas pouco sociais – recorrem, como num círculo vicioso, às consolações da tecnologia para preencher o vazio que sentem, correndo de forma ainda mais frenética, enquanto, súcubos dum capitalismo selvagem, sentem como mais dolorosas as suas fragilidades, numa sociedade onde a velocidade exterior anda de mãos dadas com a fragilidade interior.”
Num “mundo avançado, mas sombrio”, “onde todos parecem entorpecidos e anestesiados”, o Papa alertou ainda para “uma vitalidade perversa que tudo corrompe”, e que hoje apresenta “como óbvio descartar os doentes e aplicar a eutanásia, bem como abolir as línguas e culturas nacionais para alcançar a paz universal”, o que, segundo Francisco, “se transforma numa perseguição fundada na imposição do consenso».
Depois de uma viagem de três dias à Hungria, o Papa Francisco regressa a Roma ao fim da tarde deste domingo.