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O Padre Armindo Dinis é um missionário comboniano que foi ordenado sacerdote por Paulo VI em 1963. Fez parte do último grupo de padres que foi ordenado pelo, então, Arcebispo Montini, de Milão, antes de ser Papa. A um mês de fazer 80 anos, o padre Armindo tem passado os últimos anos no Brasil, mas há um ano que, por motivos de saúde, teve de regressar a Portugal. A Renascença falou com ele no Seminário das Antas, dos combonianos, em Famalicão
Como vê a canonização de Paulo VI?
É o que eu esperava e o que eu desejava, porque, para mim, Paulo VI foi o grande Papa do século XX. E foi uma alegria imensa ter sido ordenado por ele.
Como é que se sente ao saber que foi ordenado por um santo?
Para mim não muda nada. Quando fui ordenado por ele, tinha já consciência de que ele era um santo, portanto, não foi uma novidade. Esta notícia da declaração de santidade de Paulo VI era o que eu esperava há muito tempo. Eu vi outros Papas serem declarados santos, mas, para mim, o grande Papa do século XX foi Paulo VI.
Porquê?
Por causa do papel no Concílio. Foram momentos muito conturbados, e na altura já se dizia que se não fosse Paulo VI, não se sabia o que seria do Concílio. Havia muitas tensões no interior da Igreja. Muitas opiniões divergentes. E ele foi o homem que, apesar de forma mais afastada, porque participou pouco no Concílio, acompanhou-o profundamente. Ele mandava recados. E os seus recados eram pontuais para os problemas que a Igreja vivia. Todos os padres conciliares, pelo que se dizia no meu tempo, tinham um grande respeito por esses “recadinhos” de Paulo VI. Foi ele o primeiro Papa que falou, e de uma forma muito forte, da necessidade de dar respostas ao mundo moderno. Ele deu respostas a ansiedades do mundo. Além disso, era um homem de profunda espiritualidade, de uma vivência interior enorme, e muito próximo das pessoas. Eu senti isso no momento da ordenação, porque ele vibrava connosco. Tanto que, anos depois, eu disse-lhe: “Santo Padre, eu fui ordenado por si e tenho uma alegria enorme”. Ele deu-me um abraço e disse: “A alegria é também minha”.
É essa a imagem que guarda? Uma imagem de proximidade?
É. De muita proximidade. De vivência. De comunhão com as pessoas.
Feliz por pertencer ao último grupo de sacerdotes a ser ordenado por Paulo VI…
Sim. Porque eu fiz o meu curso no seminário de Braga. No último ano, quis ser missionário comboniano. Fui para Itália, onde estudei um ano em Milão, para ser ordenado Padre. Foi um dia alegre, apesar de ser, também o dia em que mais fome passei. Passei o dia sem comer, porque era o único Padre que não tinha ninguém próximo comigo. Ninguém da minha família esteve lá.
Naquela altura, em Portugal não se punha a hipótese de ir a Itália para ir a uma ordenação. Então, eu era o único Padre que estava ali sozinho. De tal forma que acabou a ordenação e eu fiquei sozinho frente à Catedral de Milão, com uma alegria enorme no coração, mas com uma fome danada.
Este momento da canonização, é então um momento alegre para si?
Muito alegre! Essa questão nem se põe! É uma alegria enorme, embora, como já disse, para mim não é uma novidade. Eu esperava isto há muito tempo. E graças a Deus, a canonização acontece comigo ainda vivo.