O bastonário da Ordem dos Médicos considera que a criação da especialidade de medicina de urgência não vem resolver o problema do serviço nacional de saúde.
“Não faz sentido existir a especialidade sem haver uma carreira de urgência/emergência médica e temos que perceber se o Governo está ou não disponível para criar essa carreira. Não é a existência ou não da especialidade de medicina de urgência que resolve o panorama atual dos serviços de urgência”, reage Miguel Guimarães.
À Renascença, avança o que, no seu entender, “resolve o problema dos serviços de urgência: a reorganização dos serviços, o reforço da capacidade de resposta dos cuidados de saúde primários, investir no sistema como um todo e proceder àquilo que é a reforma hospitalar”.
É assim que o bastonário responde ao diagnóstico conhecido nesta sexta-feira, feito por um grupo de trabalho nomeado pelo Governo sobre os serviços de urgência.
Urgências. "Terra de ninguém" e porta errada de entrada no SNS
Os serviços de urgência são “terra de ninguém”, metade dos episódios que atendem não são verdadeiras urgências, mas continuam erradamente a ser a porta de entrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS), diz o relatório.
O grupo de trabalho criado em janeiro pelo Ministério da Saúde para propor medidas que melhorassem os serviços de urgência hospitalares em Portugal sublinha que “há 20 anos” que este assunto é debatido e “é tempo de passar à ação”.
Um dos problemas identificados é a “alta prevalência de episódios de serviços de urgência inadequados”, o que afeta “negativamente os profissionais de saúde e reduz a qualidade do atendimento, com tempos de espera de diagnósticos ou tratamentos tardios”.
Há uma consistência identificada ao longo do tempo e o excesso de procura não se centra apenas no Inverno: apenas cerca de 50% dos episódios observados nos serviços de urgência hospitalares correspondem a doentes tidos como urgentes segundo a triagem de Manchester (por cores).
Portugal é, aliás, o país com maior número de episódios de serviço de urgência.
“Os serviços de urgência continuam a ser erradamente a porta de entrada no SNS. É necessário alterar esta cultura de ‘tudo e tudo na hora’”, refere o relatório do grupo de trabalho a que a agência Lusa teve acesso.
Para o grupo de peritos nomeado pelo Governo, um dos principais problemas das urgências hospitalares em Portugal é “serem uma terra de ninguém e o parente pobre dos serviços de ação médica hospitalares”.
O documento propõe assim algumas medidas para tentar melhorar as urgências, como a criação de equipas fixas e da especialidade em medicina de urgência ou emergência e também uma melhor educação da população para encaminhar os casos agudos, mas não urgentes, para outro tipo de serviços – centros de saúde ou até para consultas abertas nos serviços de urgência hospitalares, que teriam de ser criadas.
Fonte oficial do Ministério da Saúde disse à Lusa que o relatório foi analisado, tendo sido considerado que “contém orientações estratégicas relevantes”, pelo que o Ministério decidiu enviar o documento para apreciação a vários organismos, como a Direção-geral da Saúde, o INEM, as Administrações Regionais de Saúde e a Administração Central do Sistema de Saúde.