“Todos cheios” . É com estas palavras que o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, reage à indicação da Associação de Administradores Hospitalares de que um em cada cinco doentes internados com Covid-19, permanece no hospital por falta de alternativa.
Manuel Lemos atribui grande credibilidade a esses números, e reconhece que há um problema que urge resolver, mas isso resulta da forma como o envelhecimento foi olhado nos últimos 10 anos, em Portugal. “Acho que são números credíveis. Sem discutir os números, acho que a questão é mais complexa, em todo o caso. Tenho que lhe dizer que os lares das Misericórdias estão todos cheios. Há uma vaga aqui, ou ali, mas estão cheios", diz à Renascença.
"Há o problema de saber onde colocar essas pessoas. Algumas delas têm sido, a meu ver, indevidamente colocadas na Rede Nacional de Cuidados Continuados, porque não é esse o caminho. A Rede de Cuidados Continuados não é para as pessoas que têm alta hospitalar, mas isso tem muito a ver com a forma como, nos últimos 10 anos, temos olhado para o fenómeno do envelhecimento, em Portugal. Todos: nós e o Estado", aponta o presidente da UMP.
"Fomos olhando para os números que os demógrafos nos foram apresentando com grande tranquilidade, como quem diz 'isto há-de resolver-se'. A verdade é que não se resolveu e, por isso, estamos agora com um problema. É natural que os administradores hospitalares, e bem, não queiram ter pessoas nos hospitais que não deviam lá estar porque estão a custar muitíssimo dinheiro ao Estado."
Manuel Lemos diz que “não há a solução,mas soluções. A União das Misericórdias vai apresentar à sociedade e ao governo um trabalho sobre o envelhecimento. Gostaria de deixar para essa altura o nosso olhar, que é um olhar sério e competente porque conhecemos a realidade e cuidamos de pessoas. Posso apenas dizer, e repito, que não há a solução, mas soluções”.
Retoma das visitas aos lares "está a correr bem"
Noutro plano, o presidente da UMP diz que a retoma das visita aos lares "correu bastante bem" porque foram tomadas "muitas precauções".
"Em boa hora as tomámos. Nos últimos dois dias, apareceram problemas massivos, um em Abrantes e outro em Queluz, o que significa que a ideia de uqe alguns estavam a passar a ideia, sem nenhuma critica, de que o pior da crise já tinha ido embora", sublinha.
"Os idosos são um grupo de risco e, portanto, não podemos facilitar. Nenhum desses dois lares, felizmente, é de uma Misericórdia, mas é um aviso", enfatiza Manuel Lemos.