As forças de segurança do regime militar em Myanmar mataram na sexta-feira pelo menos 82 pessoas numa localidade perto da antiga capital de Yangon. A contagem dos mortos foi feita pela Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos (AAPP, na sigla em inglês), uma das poucas organizações não-governamentais que tem conseguido recolher informações sobre a situação no país.
É um dos dias mais mortais nos protestos pró-democracia em Myanmar, atrás apenas do dia 27 de março, em que morreram pelo menos 89 pessoas.
Segundo os dados da AAPP citados pela agência Reuters, as forças militares utilizaram granadas disparadas por metralhadoras para reprimir os protestantes. O uso das armas torna a intervenção militar do regime ainda mais questionável, depois de vários países e entidades internacionais terem criticado a Junta Militar que controla o país, pelo uso de munição letal.
Os manifestantes foram mortos na localidade de Bago, a 90 quilómetros de Yangon. As vítimas não puderem ser imediatamente contabilizadas porque, à semelhança do que têm feito desde o início do golpe de Estado, a 1 de fevereiro, os militares empilharam os cadáveres e vedaram o acesso à área.
No entanto, este sábado, a AAPP e a agência de notícias Myanmar Now afirmaram que 82 pessoas tinham sido mortas no protesto pró-democracia, sendo que o tiroteio terá começado de madrugada e durou até meio da tarde. Muitos dos habitantes de Bago fugiram da localidade.
À Myanmar Now, um protestante disse que a cena desenrolou-se "como um genocídio". "Eles estão a disparar para todas as sombras", afirmou.
Desde que a Junta Militar prendeu a líder do país, Aung San Suu Kyi, e instaurou um golpe de Estado no dia 1 de fevereiro, morreram 618 pessoas em protestos contra as forças de segurança, segundo os dados da AAPP.
No entanto, na sexta-feira, o porta-voz da Junta Militar disse que tinha morrido 248 civis e 16 polícias desde o golpe.
Além disso, garantiu que as forças de segurança não utilizaram uma única arma automática.
O exército de Myanmar justificou a detenção de Aung San Suu Kyi e o controlo do país com o argumento de que as eleições de novembro, que o partido de Suu Kyi venceu com uma maioria esmagadora, foram roubadas. O líder da Junta Militar, Min Aung Hlaing, prometeu que seriam realizadas eleições livres no prazo de um ano - entretanto, o prazo já foi ampliado para dois anos.
As autoridades argumentam que os protestos são cada vez mais pequenos porque a população quer paz. Mas os líderes democráticos de Myanmar pedem ação por parte da Organização das Nações Unidas, para travar o golpe de Estado e devolver a democracia ao país.
Zin Mar Aung, a ministra dos Negócios Estrangeiros deposta, disse ao Conselho de Segurança da ONU, citada pela Reuters, que "o nosso povo está pronto a pagar a qualquer custo para ter de volta os seus direitos e liberdade".