Após um ano de trabalho da Comissão Independente, a divulgação do relatório dos abusos sexuais na Igreja em Portugal, desde 1950, não encerra o problema. Pelo contrário, deve marcar o início de um ciclo de abertura e verdade sobre o doloroso facto de esses abusos terem acontecido em Portugal, como infelizmente em muitos outros países, sendo imperativo evitar que se repitam.
O escândalo é enorme, pois a Igreja proclama um Evangelho que, na prática, é desmentido pelos crimes de ministros da mesma Igreja. Percebe-se, mas não se aceita, que da parte de alguns bispos e de dirigentes de instituições religiosas tenha havido uma reação de distanciamento e até de alheamento desta tragédia.
Esperemos que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que analisará o relatório da Comissão Independente no princípio de março, se pronuncie inequivocamente pela prioridade ao sofrimento das vítimas dos abusos e pela rejeição de qualquer tipo de encobrimento. Para já, o presidente da CEP, D. José Ornelas, teve palavras claras numa primeira reação ao relatório, em sintonia, aliás, com a posição do Papa Francisco – tolerância zero para abusos e abusadores.
O relatório deixa cerca de vinte recomendações, à Igreja e à sociedade portuguesa, que devem ser atentamente estudadas. Entre elas conta-se a proposta de uma nova Comissão, para dar continuidade ao estudo e ao acompanhamento do assunto, com membros internos e externos à Igreja.
Há sinais positivos, desde logo a atitude da Rádio Renascença, emissora católica portuguesa. Tem sido uma posição de grande abertura noticiosa e de opinião no tratamento deste escândalo. Veja-se, por exemplo, o artigo de Pedro Leal, publicado neste “site” na segunda-feira passada, ainda antes da divulgação do relatório da Comissão. Uma Comissão que foi mesmo Independente, o que abona em favor dos seus membros, a começar pelo seu presidente, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, e também diz bem do escrúpulo da Igreja em manter essa independência.