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A Santa Sé apresentou esta segunda-feira a cimeira sobre os abusos sexuais sobre menores que vai decorrer a partir do dia 21 até ao dia 24, em Roma.
Numa longa conferência de imprensa alguns dos protagonistas, incluindo dos maiores especialistas da Igreja sobre esta questão, explicaram precisamente como vai funcionar a cimeira que juntará os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo e que temas serão abordados em cada dia.
Os primeiros três dias do encontro serão dedicados respetivamente aos temas da responsabilidade, responsabilização e transparência. Contarão com várias intervenções, incluindo dos cardeais Tagle, Gracias, Cupich e Marx e do arcebispo Scicluna. Falarão ainda duas mulheres ligadas mais diretamente a estruturas da Igreja e, no final, Valentina Alazraki, uma veterana vaticanista mexicana, que falará da importância da comunicação social em toda esta problemática.
Em cada dia, no final das apresentações, os bispos reúnem-se em grupos de trabalho, divididos por línguas, para discutir os temas e uma síntese dessas reuniões será apresentada no final.
Haverá ainda uma liturgia penitencial no sábado e testemunhos de vítimas de abusos que serão feitas ao longo dos quatro dias do encontro.
A cimeira abre logo na quinta-feira de manhã com uma breve introdução do Papa Francisco e termina com um discurso, também do Papa, no domingo de manhã. Nesse dia Francisco celebra missa com todos os presentes.
Ao todo participam na cimeira 190 pessoas, incluindo 114 presidentes de conferências episcopais, 14 bispos em representação das Igreja Católicas de rito oriental e 15 bispos de zonas onde não existem conferências episcopais. Haverá ainda 12 religiosos e 10 religiosas e mais 10 cardeais da curia romana.
Foi ainda anunciada a criação de um site para a cimeira, onde já estão publicados vários dados e onde serão divulgados também os discursos dos intervenientes, entre outro material.
O fim da “omertà”
Já no final, no espaço reservado a perguntas e respostas, um jornalista perguntou ao arcebispo Charles Scicluna, o maltês que durante vários anos encabeçou o departamento da Igreja responsável por investigar casos de abusos, se ainda acreditava que existia à volta deste problema uma cultura de “omertà”. O termo remete para o código de silêncio imposto pela Máfia, e foi usado pelo próprio Scicluna vários anos antes.
O arcebispo respondeu dizendo que agora é claro para todos que o silêncio não pode ser resposta. “O silêncio não serve. Seja ‘omertà’, seja negação, não serve. É sempre um choque par ao líder, e para a comunidade, serem confrontados com o facto de que alguém, que deve ser um exemplo, ser afinal um abusador. A resposta automática é a negação, mas isso não serve. Temos de nos afastar disso.”
“Por isso o terceiro dia desta reunião será sobre transparência. Só a verdade é que nos libertará”, concluiu.
Uma das questões que foi posta aos membros do painel, com alguma insistência, foi sobre o facto de esta cimeira estar reduzida à questão dos abusos sobre menores, deixando de fora questões importantes como os abusos sobre adultos vulneráveis, incluindo freiras e seminaristas ou ainda a existência de práticas homossexuais entre o clero, como acontecia no caso do ex-cardeal Theodore McCarrick, que espoletou a maior série de revelações nos Estados Unidos desde o início do século.
Em resposta o cardeal Cupich, que vai presidir ao encontro, explicou que esta cimeira pretendia acima de tudo “focar os que não têm voz”, como são os menores.
Scicluna também respondeu a esta questão dizendo que a cimeira não pretende ser capaz de acabar com todos os abusos no mundo, mas que ao falar especificamente da questão dos abusos sobre menores, isso dotará os bispos presentes das ferramentas necessárias para lidar com outro tipo de abusos também.
[Notícia atualizada às 14h41]