O secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, considera que a solução para a crise do jornalismo "não pode estar no Estado".
Em funções há um mês e, por diversas vezes, a dar esse mesmo argumento para não avançar com declarações taxativas sobre como resolver o problema de financiamento do jornalismo, o secretário de Estado abordou a questão numa intervença feita na conferência "Financiamento dos media", perante uma plateia de jornalistas e administradores de órgãos de comunicação social, públicos e privados, a quem explicou que são os órgãos de comunicação social que "têm de ter a iniciativa" de "procurar, propor e adequar" respostas "ao seu caso".
Na abertura desta palestra, organizada pelo Sindicato de Jornalistas e que está a decorrer na cidadela de Cascais, Nuno Artur Silva disse mesmo que este papel cabe aos "próprios jornalistas", tal como o de "perceber e reflectir sobre se os modelos que os órgãos de comunicação social têm de gestão e desenho de conteúdos são adequados".
Nuno Artur Silva reconheceu que "o papel do Estado é essencial para poder apoiar, não de forma directa, mas indirecta, sem qualquer suspeita de intervenção nos conteúdos dos mesmos meios", rematando que "o centro de tudo são sempre os cidadãos".
E há coisas que o secretário de Estado garante que já está a estudar para futuros apoios, nomeadamente, sobre a "literacia mediática", promovendo campanhas de sensibilização de estímulo à leitura de jornais, mostrando aqui uma preocupação com a imprensa regional.
Trata-se de uma medida transversal a outros ministérios, para além do da cultura, com Nuno Artur Silva a dizer que tem reunião marcada com o secretário de estado da educação, João Costa.
Crise da Global Media: "Acompanharemos, sem interferir"
Depois da intervenção, Nuno Artur Silva respondeu a perguntas de jornalistas sobre a situação do sector privado e, em específico, sobre a crise financeira profunda que está a atravessar o grupo de comunicação social Global Media - de que fazem parte Dário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF e O Jogo.
Questionado sobre o processo de reestruturação deste grupo privado, o secretário de Estado disse que o Governo irá acompanhar "mas no estrito cumprimento de não interferência do Estado e do governo em concreto, no que são as actividades privadas" do grupo.
Aqui, Nuno Artur Silva ressalva que "há um lado público" deste grupo privado e aqui a missão do governo "é de acompanhar e tentar garantir que esse jornalismo possa ser feito nas melhores condições possíveis", salientando que "mais do que o governo os próprios reguladores terão de estar atentos a isso".
Muito directo, Nuno Artur Silva corta a eito na resposta à pergunta sobre o papel do Estado nos media privados. "O papel do Estado nunca deverá ser um apoio directo a este ou àquele títutlo, mas deverá ser o de encontrar formas de apoio indirecto à existência de uma comunicação social independente e livre", resumiu.
Nas declarações aos jornalistas, o governante assumiu que está a estudar formas de apoio aos media, mas que não está a "inventar a roda". E fez uma proposta: a de que as fundações saiam a terreiro para apoiar o jornalismo.
"Em Portugal, isso começou a acontecer com a Fundação Gulbenkian, por exemplo", exemplificou, propondo que "isso poderá ser alargado, da mesma forma que há apoios a bolsas científicas ou artísticas" e que "é tempo do jornalismo ser encarado nesse plano".
Para além do apoio das fundações, Nuno Artur Silva disse que "seria muito importante que as plataformas internacionais pudessem dentro do âmbito das suas políticas públicas pudessem compensar o jornalismo por aquilo que também beneficiam pela existência do jornalismo".
A conferência "Financiamento dos media" decorre em Cascais e terá a presença do Presidente da República que irá encerrar os trabalhos esta terça-feira.