Covid-19. “Novo confinamento não está fora de hipótese”, dizem especialistas
07-01-2021 - 10:00
 • Marta Grosso , Vítor Mesquita

Ricardo Mexia e Fernando Maltez consideram que era expectável o aumento de infeções depois do Natal, mas dizem que não estamos numa terceira vaga. Pedem mais um esforço da população e sublinham que é importante a adesão ao que for decidido.

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“Era mais do que provável” o aumento de casos de Covid-19 a seguir ao Natal, dizem dois especialistas à Renascença. Depois de, na quarta-feira, o número diário ter ultrapassado os 10 mil, o epidemiologista Ricardo Mexia e o infeciologista Fernando Maltez não descartam um novo confinamento.

“Não está fora de hipótese, infelizmente”, afirma Mexia, lembrando que é o que se “está a verificar um pouco por toda a Europa”.

“Se mantivermos os dez mil casos diários nos próximos dias – o Governo já terá dados sobre essa tendência – não se pode tirar essa hipótese em cima da mesa”, acrescenta.

Fernando Maltez concorda que, “do ponto de vista teórico, há necessidade desse confinamento”, mas deixa ao Governo a competência de “medir as consequências do ponto de vista económico e social” de tal medida.

“Mais importante do que o nível e a intensidade, no meu ponto de vista, é a mentalização das pessoas para a adesão às medidas que forem decididas”, destaca o diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral.

Fernando Maltez reconhece que “a maior parte da população está saturada, os profissionais de saúde estão saturados, fartos desta situação, mas temos agora de fazer um esforço suplementar no sentido de cumprir essas regras o melhor possível”, apela.

O objetivo é “dar tempo que se implemente por completo o plano de vacinação e que atinjamos os tais 60% a 70% de parte da população imunizada, de forma a atingir a tão desejada imunidade de grupo”.

Ricardo Mexia alinha pelo mesmo diapasão. “Um esforço de todos para evitar que esta pandemia ande mais depressa do que o plano de vacinação. Temos que fazer um esforço suplementar”, independentemente das medidas – “mais acerto aqui mais acerto ali, mais importante do que isso é a adesão das pessoas às medidas que já estão implementadas”, reforça.

Mas estamos a viver uma terceira vaga? Não. Pelo menos, na opinião destes dois especialistas. “Os próprios epidemiologistas dividem-se quanto a estarmos ou não numa terceira onda, porque não houve um vale demasiadamente pronunciado, uma diminuição de casos demasiadamente nítida para que se seguisse agora uma subida do número de casos”, começa por dizer Fernando Maltez.

“Portanto, no meu entender, provavelmente ainda estamos na segunda onda”, conclui.

Para Ricardo Mexia, também “não é claro que deixámos a segunda” vaga. “Tivemos um pico no final de novembro início de dezembro, mas efetivamente não baixámos muito de uma incidência elevada, em torno dos três mil casos diários. É provável que este seja um novo período de crescimento. Não sei se pode ser chamado de terceira vaga”.

Tudo por causa das medidas no Natal?

O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, e o diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral, Fernando Maltez, voltam a falar em uníssono: as medidas não deveriam ter sido tão aligeiradas no período natalício.

“Sabíamos que, perante um aligeirar das medidas, era altamente provável um aumento de casos. Foi uma decisão política que se assumiu e agora há que assumir essas consequências. Estamos a pagar o preço dessa maior facilidade. Não era inesperado o que está a acontecer”, afirma Ricardo Mexia.

“Provavelmente, deveríamos ter ficado um bocadinho mais confinados, mais limitados”, acrescenta Fernando Maltez. “O respeito pelas regras que estavam preconizadas devia ter sido mantido, de forma a que isto não acontecesse”, conclui.

E agora? É preciso tomar medidas. O confinamento é, em teoria, uma hipótese, mas Ricardo Mexia defende também algumas medidas mais restritivas, “reduzindo a possibilidade de as pessoas estarem em contacto umas com as outras”.

Mas “tem de ser uma abordagem integrada, alicerçada numa política de comunicação clara que explique às pessoas que, infelizmente, ainda não ultrapassámos isto. Temos uma arma importante, a vacina, mas que até ter um impacto do ponto de vista da comunidade vai demorar algum tempo”.

“Tudo aquilo que estávamos a fazer em 2020 ainda vamos ter que continuar a fazer, durante algum tempo, em 2021”, conclui.