Portugal está em terceiro lugar na estatística da sinistralidade com tractores na União Europeia, logo a seguir à Grécia e à Polónia. Os acidentes com tractores são, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), a principal causa de morte no trabalho agrícola a nível nacional. Em 2016, foram registadas 68 vítimas mortais, depois de 55 no ano antecedente, 2015.
Para alertar os agricultores para este “cenário preocupante”, e num “esforço para inverter o elevado número de vítimas mortais e de feridos graves resultantes de acidentes com máquinas agrícolas e florestais”, a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas (CONFAGRI) está a realizar sessões de esclarecimento junto dos agricultores.
É que, segundo Isabel Santana, da CONFAGRI, “todas as semanas ou morre uma pessoa ou fica ferida e com incapacidade para exercer a actividade”. Daí, a necessidade de “sensibilizar, alertar e aconselhar os agricultores para os riscos e perigos com o uso dos tractores”.
A maioria dos acidentes com tractores ocorre em propriedades agrícolas, sendo em tudo semelhantes: o veículo despista-se, capota e apanha o condutor, esmagando-o.
Aurora Sousa, da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) de Vila Real, considera que “muitas vezes, as pessoas que manobram ou operam estas máquinas não estão preparadas para segurarem uma máquina com a quantidade de cavalos que tem”.
“As máquinas são cada vez mais potentes, os trabalhos mais exigentes e as pessoas não se formam suficientemente bem para poderem, de alguma forma, contrariarem este perigo intrínseco da máquina”, sublinha Aurora Sousa, frisando que “a gestão da segurança passa, em primeiro lugar, pelo conhecimento do ambiente em que se vai operar, dos terrenos”.
“Lavrar num terreno plano é diferente de lavrar num terreno com socalcos; lavrar num terreno onde a terra está fácil é muito diferente de lavrar num terreno onde existem troncos, árvores e pedras”, exemplifica Aurora Sousa, da ACT de Vila Real.
“Comprar altas máquinas e não conhecer o equipamento, de nada vale”
Segundo Aurora Sousa, da ACT de Vila Real, é fundamental que os agricultores conheçam bem as máquinas que vão operar, porque “comprar altas máquinas e não conhecer o equipamento que lhe vem associado e para que serve, de nada vale, em caso de acidente”.
Manuel da Silva, habitante em Palheiros, Murça, tem 79 anos e opera um tractor há “uma dúzia de anos”, sempre com a consciência que “é preciso ser cuidadoso”.
O “tractor não é para andar em corridas nem fazer rali”, diz o agricultor que nunca teve acidentes.
Também Manuel Costa, de 73 anos e residente na aldeia de Jou, refere que “é preciso fazer atenção, fazer as revisões com o tractor e andar com cuidadinho nos terrenos”.
Isabel Santana da CONFAGRI alerta também para a “importância e para a obrigatoriedade da formação para a condução de tractores”, referindo que o risco de morte dos condutores de tractores agrícolas “é oito vezes superior ao dos que conduzem automóveis ligeiros ou pesados”.
De acordo com esta responsável, entre 2004 e 2013, morreram em acidentes de tractores 305 pessoas.
As autoridades acreditam que, se fosse utilizado o arco protector ou se a máquina tivesse cabina, muitas vidas seriam poupadas. Como o uso do arco de Santo António não é obrigatório, apenas recomendado, os condutores dispensam-no, referindo que os prejudica nas tarefas agrícolas.